07 de Fevereiro, 2025 09h02mEntrevistas por Redação Integrada Rádio Cidade de Ibirubá e Jornal O Alto Jacuí

Doutor Rosalino Guareschi relata histórias dos seus 50 anos dedicados à medicina

Médico relembra trajetória desde a infância no interior de Colorado até se tornar um dos profissionais mais respeitados da região

Em entrevista ao programa Momento Estrela Guia, conduzido por Nilve Maldaner Mendes, o médico compartilhou sua história, desde as origens humildes no interior de Colorado, passando pelas dificuldades para cursar medicina, até os desafios e aprendizados ao longo da profissão.
“Logo completarei 50 anos de profissão, mas minha vida sempre esteve aqui, nesta região. Minha história se confunde com a história da comunidade. Desde a infância, passando pela minha formação e depois minha atuação na medicina, tudo sempre esteve ligado a este lugar que tanto amo”, destacou Rosalino Guareschi.
Natural da Linha Quati, no interior de Colorado, Rosalino nasceu em uma família de pequenos agricultores, que sempre viveram da terra. Sua jornada nos estudos começou cedo, impulsionada pelo incentivo de professores que perceberam seu potencial e aconselharam a família a permitir que ele continuasse sua formação.
“Minha família era de agricultores, e o caminho natural era seguir essa profissão. Mas meus professores viam em mim um futuro diferente e incentivaram meus pais a me dar uma oportunidade nos estudos. Esse foi o trampolim que me tirou do campo e me levou até a medicina”, contou.
A saída de casa aconteceu cedo. Aos 10 anos, Rosalino precisou deixar o convívio familiar para estudar em um internato, onde concluiu o 5º ano primário. Foi um período desafiador, marcado pela saudade e pela responsabilidade precoce.
“Nunca mais voltei para casa da mesma forma. Cresci distante da família, mas sempre mantive o vínculo. Até hoje, quando volto ao meu lar de infância, digo que estou indo para a casa do meu pai. Mesmo que ele já tenha partido, essa ligação nunca se rompeu”, revelou o médico, emocionado.
A formação no ensino médio ocorreu em um seminário, seguindo o que era, na época, uma das únicas oportunidades para jovens do interior seguirem os estudos. Foi lá que ele fortaleceu sua base educacional e seus valores religiosos, que até hoje carrega consigo.
“Minha passagem pelo seminário foi essencial para minha formação moral e ética. Aprendi sobre disciplina, fé e sobre a importância da família, conceitos que levo para minha vida pessoal e profissional até hoje”, afirmou.
Estudar foi um desafio em uma época sem transportes facilitados e comunicação precária
“Minha família me levava até Santa Bárbara para pegar um trem até Erechim, pois sequer conhecíamos Passo Fundo. Quando cheguei a Santa Maria, não sabia para onde ir, então perguntava às pessoas na rua onde ficava a Casa do Estudante”, relembrou.
Quando foi aprovado na Universidade Federal de Santa Maria, a notícia demorou a ser compreendida por seus familiares.
“Eu voltei para casa contando que tinha passado, mas ninguém acreditava. Meu pai só aceitou quando um vizinho trouxe um jornal de Santa Maria, onde meu nome estava listado como aprovado”, contou Rosalino, sorrindo ao lembrar da situação.
Sem dinheiro para cursinhos preparatórios, ele estudou em escolas públicas e enfrentou dificuldades econômicas.
“Minha juventude foi de muito sacrifício. Estudei em escola pública, sem cursinho, e usei cada minuto disponível para aprender. Não havia outra alternativa para alguém na minha condição. Ou me dedicava integralmente, ou não conseguiria alcançar meu objetivo”, disse.
A comunicação com a família também era um obstáculo. Sem telefone, as notícias eram enviadas por intermédio de padres que viajavam pela região e repassavam recados aos seus pais. As visitas à casa ocorriam apenas uma vez por ano, durante as férias.
Após se formar, Rosalino voltou para a região, pois precisava começar a trabalhar imediatamente para quitar dívidas da faculdade. A escolha por Selbach foi um passo natural, mas despertou curiosidade entre seus colegas de curso.
“Quando contei que vinha para Selbach, muitos perguntaram onde eu tinha ido me esconder, pois a maioria dos recém-formados buscava grandes centros para especialização. Mas sempre soube que meu lugar era aqui”, destacou.
No início da carreira, o médico encontrou um cenário completamente diferente do atual, sem exames sofisticados e com poucos recursos tecnológicos.
“Nos primeiros anos, um médico precisava se apoiar quase que exclusivamente no exame clínico e na relação direta com o paciente. Não tínhamos exames laboratoriais avançados ou equipamentos de imagem sofisticados. Precisávamos confiar em nossa avaliação”, explicou.
Ao longo dos anos, buscou especializações para aprimorar seus conhecimentos. Fez pós-graduações no Rio de Janeiro, tornando-se um dos pioneiros em videolaparoscopia na região.
“A evolução na medicina é constante. Trouxe a videolaparoscopia para Selbach quando ainda era uma novidade. No início, um cirurgião tradicional chegou a afirmar em um jornal que era um embuste. A solução foi convidá-lo para operar comigo. Depois da experiência, ele reconheceu publicamente que estava errado”, recordou.
Rosalino sempre destacou a importância da relação médico-paciente, algo que, segundo ele, vem se perdendo com o tempo.
“O atendimento médico mudou muito. Hoje, os profissionais se prendem às telas dos computadores e aos exames laboratoriais, deixando de lado o contato direto com o paciente. Eu sempre ensino aos mais jovens que o exame clínico deve vir primeiro, e os exames complementares servem apenas para confirmar uma suspeita”, afirmou.
Ao longo dos anos, construiu um vínculo forte com a comunidade.
“Minha maior alegria é ver que, depois de 50 anos, ainda sou procurado por pacientes que confiam no meu trabalho. Isso é uma prova de que sempre honrei minha missão como médico”, declarou.
Ao ser questionado sobre seu legado, Rosalino Guareschi se emociona e reafirma seu compromisso com a profissão.
“Se um dia eu perceber que preciso mudar meus princípios para continuar exercendo a medicina, prefiro parar. A ética, o compromisso com o paciente e a paixão pela profissão são inegociáveis”, afirmou.
A entrevista encerrou-se com uma mensagem de incentivo para as novas gerações.
“As dificuldades existem para serem superadas. Nunca desistam de seus sonhos. Se um caminho parecer impossível, procure outro. E nunca esqueçam que ninguém constrói nada sozinho. A vida só faz sentido quando valorizamos as pessoas ao nosso redor”, finalizou.
Aos 50 anos de carreira, Rosalino Guareschi segue como um exemplo de comprometimento, sendo referência na medicina e inspiração para Selbach e região.

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