
Após perder a companheira e caminhar de Cruz Alta até Ibirubá, Cledersom reencontra dignidade com ajuda de moradores às margens da ERS-223
No quilômetro 51 da ERS-223, em frente ao Lavador do Tarugo, um gesto de compaixão tem comovido moradores de Ibirubá. Foi ali que Cledersom Edemilsom Nunes, de 43 anos, encontrou abrigo, alimento e esperança, após chegar a pé de Cruz Alta, carregando apenas a roupa do corpo, uma coberta e uma vida marcada por perdas.
A trajetória de Cledersom foi compartilhada nas redes por Fabricio de Souza, proprietário do lavador, que tem sido peça central na corrente de solidariedade. “Ele chegou quieto, montou uma barraca improvisada ao lado da estrada e não pediu nada. Era visível o quanto precisava de ajuda, então a gente estendeu a mão”, contou Fabricio.
Durante semanas, Cledersom viveu na parada de ônibus do trevo, enfrentando frio e chuva. Aos poucos, moradores e comerciantes locais começaram a se mobilizar. A alimentação tem sido garantida diariamente pela família de Fabricio.
A história de Cledersom é marcada por resiliência. Criado por tias em Porto Alegre, enfrentou dificuldades desde a infância. “Fiquei anos na primeira série, perdi meus pais cedo, vivi o alcoolismo, e recentemente perdi minha companheira”, relatou. Por dois meses, permaneceu ao lado dela na UTI. Após o falecimento, deixou a casa para as filhas da companheira e partiu sem destino. “Peguei a estrada, sem saber pra onde ir. Só queria paz e um lugar onde pudesse recomeçar”, disse ele, com os olhos marejados.
Desde sua chegada a Ibirubá, o foco tem sido reerguer-se. Fabricio e vizinhos ajudaram na elaboração e entrega de currículos. “Já tivemos retorno. Ele participou de entrevista na Casa do Chimarrão e na Vence Tudo”, disse Fabricio. “Ver ele caminhando pra entregar currículo, sorrindo… é como ver alguém se levantando devagar, com os próprios pés.”
Um Pix solidário divulgado por Fabricio arrecadou mais de R$ 500 em poucos dias, valor que foi utilizado por Cledersom para comprar alimentos e um calçado novo. “Ele foi ao mercado e encheu o carrinho pela primeira vez em muito tempo. Isso dá dignidade”, relatou Fabricio, emocionado. “Sempre penso que é melhor ajudar alguém do que um dia precisar de ajuda.”
Além da assistência material, a rede de apoio tem oferecido cuidado humano. Os pais de Fabricio lavam as roupas de Cledersom e preparam suas refeições. “A maior riqueza disso tudo é ver que as pessoas ainda se importam”, refletiu o empresário.
Quem desejar contribuir pode doar alimentos diretamente no Lavador do Tarugo ou enviar qualquer valor pelo Pix: CPF 016.710.420-93, em nome de Fabricio de Souza.
Agora, entre currículos, refeições compartilhadas e palavras de incentivo, Cledersom busca mais do que abrigo — ele busca reconstruir a própria história. “Aqui encontrei gente que me olhou nos olhos. Isso muda tudo. Quero voltar a ter uma vida digna, com trabalho e fé”, afirmou.