
Atleta, radialista, músico e figura marcante do município, Orlando Nogueira relembra sua trajetória com emoção e lucidez.
A voz pausada, firme e carregada de história de Orlando de Moura Nogueira preencheu o estúdio na manhã em que foi homenageado pelo município de Ibirubá com o troféu dos 70 anos. Aos quase 76, Nogueira compartilhou, com memória vívida e emoção à flor da pele, uma trajetória que se confunde com a própria evolução da comunicação em Ibirubá.
Nascido em 1950, filho de Ordalino Nogueira, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, e de Doraci de Moura Nogueira, Orlando cresceu no Pinheirinho, cercado por princípios sólidos. “A honestidade era o pilar da nossa família. Meu pai dizia: ‘Um quilo de feijão é um quilo de feijão’. Esse senso de justiça e exatidão eu carreguei para o microfone”, relembra.
Desde criança, já se destacava por sua espontaneidade. “Quando a irmã na escola perguntava quem queria recitar um verso, eu já levantava a mão. Gostava de enfrentar o público”, conta. Essa desenvoltura chamou a atenção de Olavo Stefanello, então diretor da Rádio Ibirubá, que o convidou para um teste quando ele tinha apenas 14 anos.
Assim começou sua carreira no rádio. Primeiro como auxiliar, depois operador de som e, aos 17 anos, assumiu o microfone. “Fui chamado de última hora para cobrir a escala de um locutor. O gerente da época, Plínio Lütz Machado, disse: ‘O Nogueira tá pronto’. Desde aquele dia, não saí mais do microfone”, lembra.
Durante décadas, Orlando foi a voz e o coração da Rádio Ibirubá, passando por diferentes programas que marcaram gerações: Esquina da Alegria, Discolândia, Casa de Caboclo e o noticiário da hora cheia, entre outros. “Naquele tempo, a rádio era o elo entre o povo e a informação. A Hora da Solidariedade, por exemplo, tinha sintonia total. Gente avisando que não voltaria no ônibus da manhã, comunicando nascimentos, falecimentos, negócios… Era serviço puro”, afirma.
Paralelamente ao rádio, teve forte presença na música – foi baterista de bandas na época dos clássicos de Beatles e Roberto Carlos. Também teve destaque no futebol: jogou no Grêmio Ibirubá e no Juventude Operária, e chegou a ser presidente do clube em 1975. “Tive momentos inesquecíveis vestindo a camisa do Juventude. E hoje, ver meu nome sendo lembrado lá, numa sede que ajudei a construir, é gratificante demais”, emociona-se.
No jornalismo impresso, também deixou marcas. Orlando integrou a equipe fundadora do Jornal O Alto Jacuí em 1975, colaborando com a coluna social e a cobertura de eventos da comunidade. “A redação era integrada: rádio e jornal andavam juntos. O Justino Guimarães me chamava de ‘Nogueirinha’. Foi um grande mestre”, conta.
Ao longo da carreira, foi formador de talentos. Radialistas como Maurício Silvestri, Silva Júnior, Carlos César e Ademir Camargo deram os primeiros passos sob sua orientação. “Além de serem bons profissionais, sempre exigi que fossem bons cidadãos. A rádio é uma vitrine, não se pode ser exemplo só no microfone”, enfatiza.
Em 1992, afastou-se do rádio profissionalmente para se dedicar à venda de bailes, mas jamais se desligou da comunicação. Hoje, mantém um projeto nas redes sociais onde publica vídeos nostálgicos de Ibirubá com músicas cuidadosamente escolhidas. “Faço com amor. Cada vídeo tem uma trilha que combina com a imagem. Já tive vídeos com mais de 30 mil visualizações. É meu jeito de continuar servindo à comunidade.”
Sobre o futuro, é categórico: “Não consigo parar. Tá no meu sangue. A comunicação é um vício bom. E enquanto Deus me der lucidez, vou continuar.”





















