
A neuropsicóloga Valéria Morocini, de Ibirubá, vem atuando com dedicação em temas como autismo, TDAH e altas habilidades, trazendo novas técnicas que oferecem mais qualidade de vida para pacientes e famílias.
Em uma entrevista esclarecedora sobre saúde mental e desenvolvimento humano. A especialista em neuromodulação e transtornos do desenvolvimento, como autismo, TDAH e altas habilidades, ela apresentou sua trajetória, detalhou técnicas modernas e defendeu uma abordagem mais ampla e humanizada no cuidado com pacientes e famílias.
Valéria iniciou sua carreira como técnica em enfermagem, atuando durante 16 anos em cirurgias. Foi na sala de cirurgia que surgiu a paixão pelo cérebro e pela neurociência.
“Eu gostava muito das cirurgias neurológicas, porque sou apaixonada pelo cérebro. Essa curiosidade me levou à psicologia e depois à especialização em neuropsicologia”, contou.
Hoje, além de psicóloga e neuropsicóloga, atua com neuromodulação, técnica que estimula conexões cerebrais para recuperar funções prejudicadas.
Segundo ela, enquanto a psicologia trabalha a personalidade, os conflitos internos e a resiliência, a neuromodulação vai direto ao foco do cérebro.
“Conseguimos resultados rápidos em depressão, ansiedade, sequelas de AVC e transtornos do desenvolvimento. Quando uma área é danificada, não recuperamos exatamente aquela função, mas estimulamos conexões em outras partes do cérebro que compensam a perda”, explicou.
Valéria descreveu os diferentes métodos utilizados, como neurofeedback, fotobiomodulação e estimulação do nervo vago. “São técnicas não invasivas, que usam eletrodos, luz infravermelha ou softwares que mapeiam ondas cerebrais. O tratamento ensina o cérebro a se reorganizar, reduzindo sintomas e melhorando a qualidade de vida”, disse.
Entre os temas abordados, a especialista destacou os transtornos do desenvolvimento. “O autismo não tem cura, porque é um transtorno do neurodesenvolvimento, mas conseguimos modular o cérebro e ajudar na comunicação, que é a maior dificuldade. Muitas vezes o autista é mal interpretado, taxado de birrento, quando na verdade não consegue expressar seus sentimentos. Já o TDAH é muito parecido, mas com características próprias. Enquanto o autista tem seletividade alimentar ou sensibilidade a roupas, o TDAH apresenta aceleração de pensamento e dificuldade de foco”, explicou.
Ela ressaltou também os riscos do excesso de telas na infância. “As telas estão destruindo nossas crianças. Elas funcionam como luz que acelera o cérebro e produzem prazer imediato, gerando um tipo de abstinência quando retiradas. Já vemos diagnósticos de burnout digital em crianças que passam nove horas diante das telas”, alertou.
Valéria defendeu que o tratamento deve sempre envolver a família e a criação de rotinas. “Não adianta proteger demais. Precisamos preparar os filhos para o mundo, porque os pais não são eternos. Rotina e organização mental ajudam a reduzir crises e ansiedade. Os pais também precisam de apoio, pois muitas vezes desenvolvem ansiedade e outros transtornos pelo convívio diário”, afirmou.
A neuropsicóloga também comentou os avanços no uso do canabidiol (CBD) em tratamentos neurológicos. “Já existem artigos científicos que comprovam a eficácia em crianças autistas, casos de epilepsia, ansiedade e dor crônica. O problema é a banalização do debate, muitas vezes feito por pessoas que não estudaram a fundo. Não se trata de recreação, mas de ciência”, destacou, lembrando que recentemente esteve em Harvard, onde se aprofundou em pesquisas de neuromodulação.
Além das técnicas, Valéria reforçou a importância de fatores como alimentação, vitaminas e atividade física. “Muitas vezes um paciente chega com sintomas de depressão e descobre-se que tem deficiência de vitamina D ou B12. Repor essas vitaminas pode mudar tudo sem necessidade de medicamento. A atividade física é fundamental para desinflamar o cérebro e evitar demência precoce”, explicou.
Com um olhar apaixonado pelo funcionamento da mente humana, Valéria defendeu que a saúde mental precisa ser cuidada com o mesmo zelo que o corpo físico. “Nosso cérebro é um músculo e precisa ser exercitado todos os dias. Precisamos estimular memória, atenção, convivência e emoções. Não dá para aceitar se apagar diante dos diagnósticos. A ciência mostra que é possível modular o cérebro e viver melhor”, concluiu.