03 de junho, 2019 10h06m Entrevistas

[OAJ Entrevista] Ansiedade: O mal do século, causas, consequências, sintomas, tratamentos

Sabendo da importância em se falar desse assunto, a equipe do OAJ, foi em buscar de algumas respostas com a Psicóloga Carolina Soares. Confira: OAJ: O que é o transtorno de ansiedade e quais as causas? Carolina Soares: A ansiedade é um afeto processado no ego, que gera intensa carga de sofrimento, podendo ser que a pessoa identifique uma relação causal com algo que viveu, pensou ou sentiu, com a expectativa por um acontecimento vindouro, e também pode aparecer desconectado de qualquer sentido ou causa aparente. Em ambos casos traz profundo sofrimento, a ponto de causar prejuízos nas diversas esferas da vida do sujeito. As causas podem ser inconscientes e não identificáveis em um primeiro momento ao paciente, ou ativada por fatores externos ao sujeito (situações traumáticas, crises vitais, perdas importantes, ou outros momentos estressores). Relatório da Organização Mundial da Saúde aponta que o Brasil é o país latino com maior índice de doenças relacionadas à ansiedade, afetando aproximadamente 9,3% da população nacional. Pode acometer qualquer pessoa, independente de gênero, idade ou condição social. OAJ: Quais os principais sintomas do transtorno de ansiedade? Carolina Soares: Entre os sintomas mais comuns podemos citar o medo de morrer ou de enlouquecer, sensação de perda de controle sobre os pensamentos ou sobre si mesmo; sintomas físicos como taquicardia (que leva o paciente a pensar que está sofrendo um ataque cardíaco), alterações na respiração (falta de ar, respiração ofegante etc.), pressentimentos ou sensações de que algo trágico vai acontecer. O psicanalista David Zimermann apontou que existem vários níveis de manifestação de ansiedade, e é normal que em algum momento de nossas vidas nos sintamos assim. Começa a tornar-se patológico de acordo com a intensidade e a recorrência dos sintomas, isto é, conforme a força da ansiedade, a ponto de dominar a pessoa, e a frequência com que os episódios acontecem. Conforme Zimermann a pior forma de ansiedade é semelhante ao que os bebês e crianças pequenas sentem, que é o desamparo ou desalento, um terrível sentimento de estar completamente só, sem ninguém que o ampare, proteja ou acolha em suas necessidades. Um outro estágio é a chamada angústia de aniquilamento, sensação muito primitiva que é comum aos bebês e que pode seguir pela vida, em que a pessoa sente um risco real e iminente de morte, quando sofre o ataque dos afetos hostis e agressivos (pulsão de morte), e pode realmente ter a sensação de estar desfazendo-se em pedaços. Este tipo de angústia é bem caracterizado nos casos futuros de psicose, em anos posteriores, com a fragmentação do psiquismo e muitos delírios ou alucinações de fragmentação da imagem corporal ou do corpo em si. A angústia de engolfamento acontece nas relações simbióticas, caracterizadas por mães que não conseguem desgrudar-se dos filhos, literalmente engolfando-os em suas carências e desejos, projetando na criança suas fantasias e frustrações. Neste tipo de relação a mãe não consegue reconhecer o filho como um ser em separado, de personalidade e necessidades próprias, mas enxerga-o como uma extensão sua. Este tipo de angústia pode resultar mais tarde nos sintomas fóbicos, que levam à evitação de determinadas situações e de situações de intimidade ou aprofundamento de relações. A ansiedade de separação tem origem no período ainda inicial da vida em que o amor materno e paterno não foi consistente de forma a assegurar sua manutenção. Mas é natural por volta dos 8 meses do bebê, momento em que começa a “estranhar” a aproximação com pessoas que não pertençam ao seu convívio diário. Inseguranças neste estágio podem se cristalizar como ansiedades decorrentes na vida toda, manifestas por exemplo nas pessoas que tem dificuldade de confiar nos parceiros, nas relações de extrema insegurança e dependência. Qualquer separação lhe remete às primeiras separações dos pais, acarretando em uma vivência traumática. A angústia depressiva aparece quando a pessoa entra em contato com porções suas que lhe parecem desagradáveis ou reprováveis, assumindo as responsabilidades sobre eles. Encarregar-se das imperfeições, dos problemas e dos erros pode levar o sujeito a angustiar-se e também a entrar em um estado depressivo. A ansiedade decorrente do medo da perda do amor acomete crianças pequenas ou adultos, quando não desenvolveram um nível de confiança básica nas figuras parentais ou cuidadores, seja pela displicência ou pela rigidez nas punições. Já a angústia de castração decorre do período edípico, em que a rivalidade com a figura parental do sexo oposto, mesclada com o amor e admiração, geram fantasias de punição que envolvem retaliação, perda de espaço junto aos pais e reprovação pelo aparecimento das pulsões tanto amorosas quanto hostis. Já a ansiedade persecutória é resultado das projeções que o sujeito faz, ou seja, da forma como lida com seus afetos considerados reprováveis, jogando-os nas outras pessoas, o que volta-se contra si de modo ameaçador e persecutório; a pessoa imagina-se rodeada de perseguidores. A recorrência das crises de ansiedade, se não tratada, pode gerar doenças físicas, devido ao excesso de carga emocional descarregadas no corpo. Doença mental ou emocional não é frescura e nem coisa de gente fraca, mas características da condição humana, como formas de expressão do sofrimento, e precisam ser tratadas com o devido respeito. OAJ: Que outros distúrbios estão ligados à ansiedade? Carolina Soares: A ansiedade pode manifestar-se em diversas tipologias de distúrbios psicológicos, além de acompanhar os diagnósticos de doenças orgânicas. Mas comumente está associada a quadros depressivos, bipolaridade, pânico, fobias, ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo, transtornos alimentares, toxicomanias, luto patológico, transtorno de estresse pós-traumático, entre outros. OAJ: Alguns dos fatores que podem aumentar o risco da doença: Carolina Soares: Hábitos de vida desregrados, sedentarismo, falta de controle das emoções, ambiente insalubre, contexto sócio-econômico-cultural deficitário em atender às necessidades básicas do sujeito são fatores que contribuem para a instalação de um quadro patológico de ansiedade. A colocação de ideais muito altos, nível de auto exigência e dificuldade em admitir erros também deixam a pessoa em constante estado de alerta e vigilância sobre seus atos. Além do histórico familiar, o que sinaliza uma maior predisposição a desenvolver o transtorno. Abuso de substâncias (drogas lícitas e ilícitas) também pode exacerbar os sintomas, e a existência de comorbidades psicológicas contribuem para o aparecimento da ansiedade. OAJ: Quais as melhores formas de tratamento da ansiedade? Carolina Soares: Recomenda-se tratamento multiprofissional, com acompanhamento psiquiátrico e psicológico. Existe a possibilidade de a ansiedade não ser o transtorno em si, mas a manifestação de outra desordem mais complexa, o que exige avaliação criteriosa. Somente a medicação pode não alcançar o cerne do problema, que exige uma mudança nos comportamentos e padrões de pensamento. A psicoterapia entra como o meio de ajudar o paciente a encarregar-se de suas decisões, responsabilizando-se por suas escolhas e assumindo assim a possibilidade de modificar os aspectos de sua vida que estão em desacordo com suas expectativas. Modifica-se também padrões tóxicos de relacionamento. Praticamente todas as técnicas de tratamento psicológico podem ser utilizadas, incluindo a psicanálise, que permite o acesso ao conteúdo inconsciente, fonte das repetições do padrão de sofrimento, possibilitando uma mudança no registro psíquico e reordenamento dos afetos, dando-lhes novo destino e ampliando a plasticidade do aparelho psíquico, ou seja, aumentando os recursos emocionais para a pessoa enfrentar as situações de crise com maior tranquilidade. OAJ: A correria do dia a dia, a incansável busca pelo fazer perfeito, pode ser um fator que contribuí para ter ansiedade ou até mesmo para o agravante da ansiedade? Carolina Soares: O excesso de preocupações e pressões da vida atual, a crescente demanda da sociedade e do mercado. Neste mundo competitivo em que estamos vivendo há uma pressão constante sobre o desempenho em todos os setores da vida, seja profissional, sentimental, sobre o corpo e a saúde. O discurso de prosperidade que está em alta por vezes intensifica os medos e angústias, à medida que não se consegue alcançar o esperado. Há uma pressa por viver e alcançar metas, incrementada pela crise econômica(este um dos grandes fatores geradores de ansiedade). Carolina Camara Soares, psicóloga formada pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Pós graduada em Gestão de Recursos Humanos e em Avaliação Psicológica. Psicanalista membro efetivo da Sigmund Freud Associação Psicanalítica. Tem experiência em docência, atuando com clínica psicanalítica para todas as idades, Orientação Profissional e de carreira, desenvolvimento de pessoas e grupos de estudo em psicanálise.

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