07 de Abril, 2025 09h04mEntrevistas por Redação Integrada Rádio Cidade de Ibirubá e Jornal O Alto Jacuí

Do Interior à liderança: A jornada e o legado de Edemar Schweig na educação

Mais de 50 anos dedicados à educação em Ibirubá, Schweig é do tempo em que o professor fazia a merenda para os alunos.

Professor Edemar dedicou mais de meio século à educação, atravessando salas improvisadas, caminhões-escola, crises financeiras e revoluções pedagógicas sem jamais abandonar sua essência: ensinar com amor, verdade e simplicidade.

Com uma fala serena, um olhar firme e uma memória que remonta aos anos 1950 com a precisão de um historiador, o professor Edemar Schweig não apenas viveu a história da educação em Ibirubá — ele a escreveu com as próprias mãos. Filho da colônia, nascido na Linha Quatro, nas imediações onde hoje se estende a cidade, começou a vida entre plantações e frases em alemão. Aos oito anos, entrou na escola Sinodal sem saber pedir um copo d’água em português. Aos 73, tem um legado educacional que se confunde com a própria história do município.
“Minha primeira língua foi o alemão. Aprendi português na marra, com o professor Arthur Kanitz, um mestre que ensinava mais que matéria: ele ensinava a viver”, recorda Edemar. E viver, para ele, sempre foi verbo conjugado com disciplina, esforço e propósito. Tentou por duas vezes o vestibular para o ginásio General Osório e foi reprovado. “Não passei. Pensei: meu destino é a lavoura mesmo. Mas meu irmão, o professor Rudi, não aceitou isso. Ele me puxou pela mão e me levou para Ijuí. Lá tudo começou a mudar.”
No IMEAB — Instituto Municipal de Educação Assis Brasil — Edemar não apenas se formou técnico agrícola. 

Formou também seu caráter de educador. Trabalhou para comer no internato, fez o curso normal rural e depois técnico, por sete anos. Foi ali que conheceu sua futura esposa, com quem dividiria quase cinco décadas de vida e amor à educação. “Não podia namorar na escola, mas namorava escondido. Hoje somos companheiros de uma vida inteira.”
Com o diploma na mão, voltou a Ibirubá e recusou propostas tentadoras para trabalhar em cooperativas agrícolas. Optou por algo mais instável, mas mais significativo: a educação. Entrou para o projeto UMITE — um caminhão-escola que levava conhecimento a comunidades do interior. Dormia nas casas dos alunos, dava aula sobre técnicas rurais, via de perto as carências e os sonhos de quem vivia longe das cidades. “A UMITE foi uma escola dentro da escola. Me ensinou a lidar com gente. A entender realidades diferentes.”
De lá, seguiu para o ensino técnico, depois para o supletivo, e foi somando experiências até chegar à direção do Colégio Sinodal Ibirubá, em 1985. Um desafio que aceitou com hesitação, mas encarou com o senso de missão de quem sabia que a escola precisava mais que um gestor: precisava de alguém que acreditasse nela. “Não sou gestor por formação, sou por vocação. Aprendi ouvindo colegas, errando, tentando. Mas nunca fugindo da luta.”
Edemar foi diretor da escola por duas vezes. Na primeira, entre 1985 e 1992. Depois, em 1996, reassumiu em um dos períodos mais críticos da história da instituição. Com menos de 100 alunos matriculados e dívidas em aberto, a escola beirava o fechamento. “Fui para casa desesperado. Disse para minha esposa: o que que eu vim fazer aqui? Mas lembrei do que meu pai dizia: se tu assumiu, agora aguenta. Não se larga no meio.”
Organizou reuniões comunitárias, bateu de porta em porta com o conselho escolar para buscar rematrículas, renegociou dívidas e mobilizou a cidade. Quando faltou dinheiro, o pai de Edemar — seu Etwin Schweig — emprestou mais de 1.500 sacas de soja, transformadas em dinheiro para salvar a folha de pagamento dos professores. “Ele não emprestou pra mim, emprestou pra escola. Porque sabia que aquilo ali era patrimônio da comunidade. Eu me emociono até hoje lembrando disso.”
Com sua liderança serena, a escola voltou a crescer, se estruturou, ampliou cursos e se reposicionou como referência regional. “Mas eu nunca fiz nada sozinho”, frisa Edemar. “Tive equipes incríveis, professores dedicados, pais presentes. Eu apenas tentei dar direção.”
Em paralelo, deixou sua marca por onde passou: como professor de ciências e educação física na Escola Hermany, onde dava aulas mesmo sem merendeira, sem zeladora, cozinhando para os alunos e limpando vidraças nos finais de semana com a ajuda dos estudantes. “A gente dava aula com lamparina, porque nem luz elétrica tinha ainda. Treinava os alunos para os Jogos da Primavera correndo descalços na Avenida Brasil. E a escola ainda levava medalha.”
Durante a entrevista, diversos ex-alunos e amigos deixaram mensagens emocionadas. Gente que hoje é adulto, profissional, pai e mãe — e carrega na memória o impacto silencioso de ter sido educado por um mestre de verdade.
Ao final, Edemar reflete com firmeza e ternura sobre o que significa ser professor: “Estudar é viver acima da média. E o professor tem que saber acolher. Ser simples. Porque são as pequenas coisas que transformam. Ninguém precisa ser dono de todo o saber. Mas precisa fazer o melhor com aquilo que sabe.”
O professor que um dia começou a ensinar debaixo de uma árvore, com o chão batido por carteira e o céu por teto, hoje é referência silenciosa de uma vida inteira dedicada a plantar futuro. E as sementes que ele lançou, aos poucos, viraram árvores. Muitas. Frondosas. Com raízes firmes e frutos espalhados por toda a comunidade.
A entrevista completa com o professor Edemar Schweig está disponível no canal do YouTube do Jornal O Alto Jacuí.

 

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