23 de setembro, 2024 09h09m Fortaleza dos Valos por Redação Integrada Rádio Cidade de Ibirubá e Jornal O Alto Jacuí

Ciberataque a Fortaleza dos Valos levanta suspeitas sobre contratos públicos milionários

Grupo hacker alega ter provas de fraudes e ameaça novas invasões em prefeituras de todo o país.

Eram 22h50 da noite quando o celular da redação vibrou com uma notificação inesperada. Do outro lado da tela, uma mensagem enigmática. "Boa noite", dizia o remetente. Logo em seguida, o mistério se desfez: “Nesta madrugada, realizamos uma invasão nos servidores da prefeitura de Fortaleza dos Valos – RS, onde interceptamos 5 milhões de reais em obras superfaturadas!”. A assinatura da mensagem trazia um nome que ecoaria pelos corredores da administração municipal: "p4r4zyt3", acompanhado do grupo FMC.

Foi o início de uma trama que colocou Fortaleza dos Valos no hall de uma ação hacker que atacou diversos sites públicos em todo o país. O hacker, em tom confiante, revelou que tinha em mãos contratos fraudulentos e que sua ação era motivada pela suposta corrupção na gestão pública. Segundo ele, o grupo não pretendia parar ali: mais invasões estavam planejadas, atingindo outras prefeituras e órgãos públicos do país, em uma ação que eles batizaram de "Tango Down".


A investigação da nossa reportagem


Nos dias que se seguiram ao contato, nossa equipe começou uma busca minuciosa por informações. Em consulta ao Portal da Transparência de Fortaleza dos Valos, encontramos apenas um registro que se aproxima dos 5 milhões de reais mencionados pelo hacker: o Pregão Eletrônico n.º 11/2024, destinado à aquisição de emulsão asfáltica e agregados para obras de pavimentação em várias ruas do município. O valor, R$ 5.536.420,65, cobre um período de 12 meses e segue os trâmites da Lei 14.133/21, através de um Sistema de Registro de Preços (SRP). Contudo, não há evidências de superfaturamento, e  também não há como afirmar que este é o contrato mencionado pelo invasor.

O hacker e suas motivações


Ao longo de várias conversas pelo WhatsApp, o hacker que se identifica como "p4r4zyt3" explicou suas ações com uma mistura de orgulho e convicção. Ele afirmou que o grupo FMC agia a partir de denúncias da população e que a operação tinha um objetivo claro: expor fraudes envolvendo políticos e administrações corruptas. A invasão em Fortaleza dos Valos, segundo ele, fazia parte de uma campanha nacional, que visava revelar os “podres” de diversos municípios.
"Interceptamos documentos e conversas do celular da prefeita. Essas provas já estão na deep web", afirmou o hacker em uma das mensagens. De acordo com ele, entre os dados vazados estavam trocas de e-mails e conversas no WhatsApp que indicariam irregularidades na administração municipal. Porém, até o momento, as provas não foram publicamente confirmadas, e a prefeita Márcia Rossatto Fredi, do Progressistas, nega veementemente qualquer tipo de ilegalidade.
A resposta da prefeita: “Fake news e transtornos”
Diante das acusações, a reportagem entrou em contato com a prefeita Márcia, que foi categórica em negar qualquer irregularidade.  “Tudo que temos é total transparência. Não existe superfaturamento. Isso é uma tentativa clara de desmoralizar a administração”. Márcia destacou que o maior contrato de pavimentação em Fortaleza dos Valos é um convênio de aproximadamente 1,5 milhão de reais, muito abaixo dos valores citados pelo hacker.
A prefeita também expressou indignação com o ataque, afirmando que ele trouxe grandes transtornos à Prefeitura. “Além de ser um crime, esse ataque paralisa serviços essenciais para a população, como as licitações na saúde e educação. Há prazos que não conseguimos cumprir por conta dessa invasão.”

Um enigma chamado FMC

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A sigla FMC permanece um mistério. Embora o grupo tenha assumido a responsabilidade pela invasão, a identidade de seus membros e o significado do nome continuam obscuros. O hacker se limitou a dizer que o FMC é um grupo independente, que atua de forma clandestina e que suas operações são conhecidas apenas na deep web. Não há qualquer indício, até o momento, de que o grupo tenha relações com outras organizações de hackers mais conhecidas, como o Anonymous.

A investigação segue

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul já está investigando o ataque. Tentamos contato com a delegada regional Diná Rosa Aroldi, da Polícia Civil de Cruz Alta, mas até o fechamento da edição não tivemos retorno. Segundo a prefeita, nenhum dado sensível foi comprometido, e os serviços online estão sendo restabelecidos. No entanto, a ameaça de novos ataques por parte do grupo FMC mantém a administração em alerta.
Com o avanço das investigações, resta saber até onde vão os tentáculos do grupo hacker e se suas alegações de corrupção se confirmam ou se não passam de uma cortina de fumaça. Enquanto isso, Fortaleza dos Valos tenta retomar a normalidade, mas o impacto do ataque ainda reverbera pelos corredores da administração municipal.

Reportagem: Jornalista Cristiano Lopes

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