Sentado na redação, Gilnei dos Santos Graminho revira antigas edições do Jornal O Alto Jacuí. Algumas páginas amareladas, outras com fotos que ele mesmo revelou em um laboratório escuro, usando químicos e técnicas que, hoje, soam obsoletas. “Era um trabalho cansativo, mas gratificante. A gente via o jornal pronto e sabia que aquele esforço todo valia a pena”, recorda ele, que foi repórter do jornal entre 1996 e 2006.
Sem internet, sem câmeras digitais, sem redes sociais, o jornalismo local era um processo manual e meticuloso. “A gente saía para cobrir um evento, anotava tudo, fazia as fotos em filme e depois voltava para revelar no laboratório. Se desse errado, não tinha como refazer. Era na confiança”, conta.
O início no jornalismo e o aprendizado na prática
Nascido em Ibirubá, Gilnei nunca planejou ser jornalista. Foi indicado para a vaga por Eliseu Feit, que na época estava deixando o cargo. O primeiro contato foi com Elisabeth Guimarães, conhecida como Marga. “Ela me explicou que precisava de alguém para cobrir eventos, fazer fotos e escrever matérias. Eu fiquei em dúvida, porque não sabia se dava conta. Mas aceitei o desafio”, lembra.
O primeiro aprendizado veio rápido: registrar tudo com atenção. “O Eliseu me dizia: ‘Anota tudo, Gilnei. Ou grava, se puder. Não dá para errar nome de autoridade, homenageado ou data de evento’.” Assim, com caderno e gravador na mão, ele foi ganhando experiência.
A rotina do impresso antes da era digital
Nos anos 1990 e início dos anos 2000, a produção do jornal era um processo artesanal. “As fotos eram feitas com câmera de filme. Depois, a gente revelava no laboratório do próprio jornal. Era um trabalho minucioso, porque se queimasse o filme, perdíamos tudo”, explica.
As matérias eram escritas na máquina de escrever. O texto passava por Justino Guimarães Neto, o editor-chefe. “Ele tinha um jeito único de escrever, bem opinativo. Às vezes, eu entregava um texto e, quando via publicado, estava totalmente reformulado. Ele não tinha medo de criticar ou elogiar. Isso gerava repercussão na cidade”, conta.
O fechamento do jornal era sempre na quinta-feira. Gilnei recorda a correria. “A gente montava as páginas no papel vegetal, manualmente. Depois, levava tudo para Santa Bárbara do Sul, na gráfica Minuano. Eu mesmo fazia a entrega. Saía daqui no fim da tarde e voltava de madrugada com os exemplares impressos.”
Os desafios e as mudanças no jornalismo
Com a morte de Justino Guimarães Neto, em 2003, o jornal passou por uma transição. “Foi difícil. Perdemos um grande jornalista. A Marga assumiu o comando e seguimos em frente, mas foi um período de adaptação.”
Nos anos seguintes, a tecnologia começou a transformar a rotina. “A câmera digital chegou, e isso já ajudou bastante. O computador substituiu a máquina de escrever. Mas a essência do jornalismo continuou a mesma: estar presente nos fatos, ouvir as pessoas e contar suas histórias com verdade e responsabilidade”, reflete.
Hoje, ao ver o Jornal O Alto Jacuí completando 50 anos, Gilnei sente orgulho de ter feito parte dessa história. “Eu escrevi, fotografei, revelei, distribuí. O jornal é a memória de Ibirubá e região. E fico feliz por ter contribuído para isso.”