
Criador de soluções inovadoras para o campo, João automatizou sua horta, desenvolveu novos métodos para o plantio de mandioca e cuida voluntariamente do cemitério de Santa Clara do Ingaí, em Quinze de Novembro, há mais de 15 anos.
Antes mesmo do sol nascer, João Guilherme Wayhs Wilke já está de pé. O frio da madrugada ou o calor escaldante não são obstáculos para quem dedicou a vida ao campo. Chova ou faça sol, ele está na lavoura, cuidando da plantação de mandioca ou verificando cada detalhe da horta que ele mesmo automatizou.
Nascido em 1942, em Santa Clara do Ingaí, no interior de Quinze de Novembro, João cresceu em meio à terra, aos bois e à rotina dura da agricultura. “Eu cresci lá na casa onde meu avô morava. Ele era dono de uma vasta área de terra e, na divisão da herança, cada filho ficou com 500 hectares. Meu pai morreu quando eu tinha nove anos e minha mãe ficou viúva com sete filhos pequenos. Mas ela nunca vendeu um hectare sequer. Naquele tempo não se gastava dinheiro como hoje”, relembra. Ainda menino, João já ajudava na lavoura. Aos 17 anos, lidava com a criação de porcos e, aos 20, já tinha 1.400 suínos para engorda. “Em 1985, fui o maior produtor de leite da cooperativa na região”, conta com orgulho.
Do trabalho na lavoura ao balneário
A vida de João tomou um rumo inesperado quando um funcionário, ao limpar a propriedade com uma retroescavadeira, sugeriu abrir um balneário. A ideia foi colocada em prática e o local virou ponto de encontro para a comunidade.
“Eu comecei a juntar gente, gente... Minha nossa, enchia! Aí botei laje de areia dentro da água, e o pessoal vinha. Ninguém olhava ingresso, cada um dava o que queria”, lembra.
Com o tempo, a família passou a estruturar melhor o espaço, e hoje há planos para transformá-lo em uma área de acampamento. “Essa é a ideia do meu filho para o futuro”, diz João, satisfeito por ver o legado da família se expandindo.
Inovação no campo e amor pela terra
Mesmo depois de dividir suas terras entre os filhos, João nunca se afastou do campo. Seu foco hoje é a produção de mandioca, mas ele não faz isso da maneira tradicional. Sempre curioso, criou seus próprios métodos para otimizar o cultivo.
“Aqui eu plantei 400 pés e estou fazendo uma experiência com diferentes variedades. Planto em 45º para melhorar a produtividade. Também não deixo mais de duas ramas por pé, porque se tiver três, a força da raiz se perde”, explica.
Para facilitar a colheita, João desenvolveu um arrancador de mandioca. “Eu vi no celular aqueles arrancadores industriais e pensei: ‘Vou fazer um do meu jeito’. Aí engato a corrente no pé e puxo. Em dois minutos, arranco um monte de mandioca sem fazer esforço”, mostra, demonstrando sua invenção. A horta, sua grande paixão, também é um espaço de testes e descobertas. “O portão dela é automático. Nunca mais precisei me preocupar com cachorro entrando”, comenta. Para afastar formigas cortadeiras, ele encontrou uma solução natural: “Plantei 60 pés de rícino, porque formiga não chega perto”. Outro segredo de João está no solo. “Eu preparo a terra muito antes de plantar, porque senão não funciona. O adubo precisa descansar por dois ou três meses. E tem que cuidar a fase da lua também, senão não dá certo”, ensina.
O guardião do cemitério
Além da dedicação à lavoura, João há mais de 15 anos se voluntariou para cuidar do cemitério da comunidade. Como ex-presidente da comunidade luterana local, ele viu a necessidade de melhorias no espaço e resolveu agir.
“Quando dava tormenta, a gente encontrava flores no chão, longe dos túmulos. Então, inventei um sistema de vasos ecológicos, que não viram com o vento e não acumulam água. Aqui no cemitério, fiz mais de 700 vasos”, conta.
Ele também transformou túmulos antigos em um memorial. “O primeiro enterro aqui foi em 1898. Segundo os mais antigos, foi uma criança de dois anos. Achei a cruz no chão e resolvi colocar ela em destaque”, explica.
Sabedoria de uma vida inteira
Aos 82 anos, João segue ativo e cheio de ideias. Com a experiência dos anos, aprendeu a importância da paciência. “Não adianta dar o passo maior do que a perna. Eu já fiz isso muito quando era jovem. Agora, penso diferente”, reflete.
Sempre disposto a compartilhar seus conhecimentos, ele segue inspirando a família e a comunidade. “Eu não me importo de pegar na enxada. Sentar e cuspir no chão é pior”, brinca.
Com sua dedicação ao campo, João Guilherme Wilke mostra que a idade não é um limite para quem tem paixão pelo que faz.