Esse semana no OAJ ENTREVISTA, o tema abordado é o Setembro Amarelo, e para quem ainda não conhece o assunto, nossa equipe conversou com a Maria Eduarda Rossato Facco que é Psicóloga e explica um pouco mais sobre depressão, suicídio, já que o mês de setembro visa alertar as pessoas sobre isso. E o porquê da escolha do mês de setembro e sua cor amarela? Bom, essa é uma campanha brasileira de prevenção ao suicídio, iniciada em 2015. E tem uma iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). O mês de setembro foi escolhido para a campanha porque, desde 2003, o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.A ideia é promover eventos que abram espaço para debates sobre suicídio e divulgar o tema alertando a população sobre a importância de sua discussão. No Brasil, o suicídio é considerado um problema de saúde pública e sua ocorrência tem aumentado muito entre jovens. De acordo com números oficiais, 32 brasileiros se matam por dia em média, sendo essa uma taxa maior do que a de vítimas de AIDS e da maioria dos tipos de câncer. De acordo com um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2014, o Brasil está em oitavo dentre os países com maior número de suicídios, atrás de Índia, China, Estados Unidos, Rússia, Japão, Coreia do Sul e Paquistão. O Rio Grande do Sul tem a maior taxa, com 10,2 suicídios por cem mil habitantes, seguido de Roraima, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, conforme levantamento do Ministério da Saúde abarcando o período de 2006 a 2010. No mundo, o suicídio é a terceira causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos e a sétima causa de morte de crianças entre 10 e 14 anos de idade. A OMS também afirma que o suicídio tem prevenção em 90 porcento dos casos. Entretanto, um estudo brasileiro de Bertolote et al (2002) afirma que 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais, diagnosticados ou não, tratados incorretamente ou não tratados de maneira alguma. Origem da cor amarela: Segundo a Associação Catarinense de Psiquiatria, a cor da campanha foi adotada por causa da história que a inspirou: Em 1994, um jovem americano de apenas 17 anos, chamado Mike Emme, tirou a própria vida dirigindo seu carro amarelo. Seus amigos e familiares distribuíram no funeral cartões com fitas amarelas e mensagens de apoio para pessoas que estivessem enfrentando o mesmo desespero de Mike, e a mensagem foi se espalhando mundo afora. O carro era um Mustang 68, restaurado e pintado pelo próprio Mike. Os pais de Mike, Dale Emme e Darlene Emme, iniciaram a campanha do programa de prevenção do suicídio "fita amarela", ou "yellow ribbon", em inglês. A seguir uma entrevista que vai esclarecer ainda mais sobre este assunto:
1) Como podemos caracterizar um quadro depressivo? É necessário em todos os casos a medicação?
O Transtorno Depressivo Maior trata-se de um adoecimento psíquico que tem, por sua essência, uma série de sintomas físicos e psicológicos invalidantes para o indivíduo que os apresenta. Pode ser caracterizado pela manifestação de sintomas que ocorrem, na maior parte do tempo, durante um período de pelo menos duas semanas. Este tipo de depressão pode se manifestar em um caso único (chamado EPISÓDIO ou QUADRO), em que algum trauma desencadeia o desenvolvimento da depressão maior. Entretanto, há também outra especificidade no que diz respeito à demonstração da doença: ela pode ser intermitente, ou seja, os sintomas apresentam-se em alguns períodos da vida (caracterizando o Transtorno). Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, dentre os seguintes sintomas da depressão, o paciente deve apresentar cinco, por pelo menos duas semanas, para ser qualificado dentro do tipo de depressão grave: sentir-se deprimido na maior parte do tempo e quase todos os dias; Prazer diminuído em atividades que antes eram interessantes para ele; Perda ou ganho de peso não intencional; Falta de sono ou excesso de sonolência; Problemas psicomotores, sendo estes agitação ou lentidão nos movimentos; Fadiga anormal e frequente; Falta de concentração; Sentimento de culpa e inutilidade frequentes; Pensamentos de suicídio ou morte.
É importante ressaltar que nem todos os sintomas, de forma isolada, caracterizam um episódio depressivo. Além disso, nem todos os graus de depressão precisam, necessariamente, de intervenção medicamentosa, embora seja imprescindível o acompanhamento de um psiquiatra que decida a primordialidade ou não do medicamento. Concomitante a isso, é fundamental a supervisão de um psicólogo que acompanhe o grau de danos psíquicos que o sujeito apresenta. Para um resultado mais eficaz e com maior chance de uma possível cura, o mais indicado seria o acompanhamento de ambos os profissionais.
2) Como a psicoterapia auxilia nesses quadros?
A Depressão, em níveis orgânicos, está ligada a um distúrbio de neurotransmissores, como a serotonina e a noradrenalina (compostos químicos produzidos pelo corpo humano que desempenham funções importantes, como a regulação do sono, da dor, das emoções e do humor). Uma vez que estejam em desequilíbrio, o uso de antidepressivos irá restabelecer os níveis normais no cérebro e, desta forma, propiciar ao paciente uma sensação de bem estar físico. Já a psicoterapia pode auxiliar ao indivíduo a entender a origem desta desorganização, ou seja, ajudá-lo a adentrar em sua história de vida a fim de descobrir as raízes de seu sofrimento, que está manifestando-se em forma de sintomas. Geralmente, estes processos ocorrem a partir de traumas, perdas, angústias, mudanças e estão estritamente ligadas à história do sujeito em questão – questões estas, que só serão possíveis através da psicoterapia.
3) Como se caracterizam as ideações suicidas?
A ideação suicida nada mais é do que a tentativa ou intenção que o sujeito tem de tirar a própria vida. Diferentemente do que é difundido, a ideação suicida não é “falta de vontade de viver”, mas sim uma urgência de que a dor psíquica deixe de existir a qualquer custo.
4) Em que casos há risco de suicídio? Temos como identificar quando uma pessoa está precisando de ajuda?
Grande parte das tentativas de suicídio são comunicadas. É preciso ficar atento aos sinais verbalizados e, principalmente, aos não-verbais como colocar-se em situações de risco, automutilações, desenhos, entre outros. Existe um senso comum de que “quem vai se matar não avisa”, que precisa ser desmistificado. Não necessariamente quem avisa vai tirar a própria vida, mas definitivamente, quem tira a sua vida, tentou avisar de alguma forma ou de outra.
5) Como podemos prevenir quadros depressivos?
Através de acompanhamento psicológico. Não existe forma de prevenir futuros traumas ou danos que o sujeito pode vir a passar, mas o autoconhecimento que é adquirido através da psicoterapia pode ser de grande auxílio no modo como o sujeito enfrenta suas frustrações, perdas, lutos e desprazeres.
6) Em que momentos a psicoterapia é indicada?
Em todos. A psicoterapia, principalmente nos dias de hoje em que a tecnologia nos dificulta os encontros “olho no olho”, surge para auxiliar no processo de autoconhecimento, contribuindo nos recursos de identificar, reconhecer e aceitar certas dores que o ato de existir traz. Não é indicado apenas para o sujeito que está em Depressão, pois a psicoterapia é um facilitador para que o sujeito vivencie de forma adequada sua história, em busca de um bem-estar psíquico, físico e mental.
7) Em casos extremos, como a pessoa pode pedir ajuda?
Embora, por vezes, a tecnologia nos afaste da realidade, paradoxalmente a mesma vem com o intuito de ajudar muitos pacientes em potencial. Hoje existem muitas comunidades online que buscam uma maior compreensão através do compartilhamento de suas vivências e histórias. Além disso, o Centro de Valorização à Vida (CVV) busca suprir as demandas emocionais de sujeitos dentro desses contextos. Em caso de sentimento de solidão, desamparo, culpa, dor, é possível discar o número 188 e falar com um dos atendentes do centro. A ligação ocorre com pessoas do Brasil todo, então não há risco de acabar falando com algum “conhecido” – um dos grandes medos que surgem através dentro desse meio. Também é importante a comunicação com as pessoas de seu convívio. Sempre há alguém disposto a ajudar!
8) Na nossa região há altos casos de suicídios, tem alguma explicação cultural para isso?
Pode ser que sim. As culturas germânicas, italianas e polonesas descendentes, em maior parte da nossa região, trazem heranças europeias e são carregadas por histórias difíceis de muita luta, dor, guerras e sofrimento. Este fato traz uma ideia de que nossos ancestrais não sofriam e de que conseguiam superar suas angústias de forma indolor, o que não é verdade. A verdade é que todos nós sentimos dor: a da perda, de traumas, frustrações, aflições e solidão. A grande diferença era que, antigamente, falar que estava se sentindo dessa forma era considerado sinal de fraqueza. Ideia errônea, já que é através do conhecimento e compartilhamento da dor que a mesma é aliviada.
9) Qual a importância das campanhas de conscientização sobre depressão e prevenção do suicídio?
Principalmente para que o sujeito perceba que TODA VIDA IMPORTA! Precisamos desmistificar a ideia de que sofrer é errado! De que a dor é algo que só acontece com o indivíduo que a sente. Ao passo que as campanhas ocorrem, é possível conscientizar-se de que o suicídio pode ser evitado, de que a vida vale a pena e de que não estamos sozinhos!
10) Algo que não foi complementado e gostaria de ampliar?
Apenas gostaria de salientar que depressão NÃO É frescura. E fazer um pedido para que observemos os nossos entes, conversemos mais um com o outro, no intuito de que seja compreendido que cada um vivencia suas dores de uma forma, de que colocar-se no lugar do outro nunca sai de moda, e pode prevenir tragédias, sejam elas anunciadas ou não.
Maria Eduarda Rossato Facco
Psicóloga (CRP 07/25102)
Especialista em Criança e Adolescente (UNISINOS)
Atende em Ibirubá (quartas-feiras) e Passo Fundo.
F.: (55) 99131-6036