19 de Dezembro, 2025 10h12mAgronegócio por Jardel Schemmer- Repórter Rádio Cidade 104.9

Márcio Ücker: mais de 30 anos dedicados ao agronegócio e à gestão no campo

Empresário e amigo do agricultor, Márcio revela um pouco da sua vida de empresário ligado ao agro

Com mais de três décadas de atuação no agronegócio, o empresário e produtor rural Márcio Ücker, especialista em gestão de negócios e em inteligência agroclimática, construiu sua trajetória aliando experiência prática, formação em gestão e atenção constante ao clima e ao mercado. 

 

Na entrevista, ele fala sobre o início da carreira, a persistência do produtor rural diante das dificuldades, o avanço da tecnologia no campo, a influência do clima nas decisões e os desafios atuais dos preços dos grãos. Uma conversa clara e direta, voltada a quem vive o agro no dia a dia.

Márcio, para começar, se apresenta para nós: quem é você no agro e como começou a sua caminhada no campo?
Márcio: ''Minha vida profissional começou há mais de 30 anos. O primeiro trabalho foi dentro de uma empresa ligada diretamente ao agronegócio. Na época, eu ainda cursava o segundo grau, mas já tinha uma ligação muito forte com o campo, porque a minha família sempre teve raízes na agricultura.
A partir dali, todo o meu caminho foi sendo direcionado para o agro. Desde a faculdade, canalizei meus estudos para essa área. Fiz minha graduação em Gestão do Agronegócio e, posteriormente, algumas especializações. Uma das mais importantes foi a pós-graduação pela Fundação Getúlio Vargas, onde foram dois anos de muito estudo, o que para mim foi uma grande satisfação.
Recentemente, no ano passado, concluí também uma especialização fora do Brasil, igualmente voltada à gestão de negócios no agronegócio. Isso ampliou muito a minha visão e o meu conhecimento. Toda a minha vida profissional foi dedicada ao agro, sempre buscando profissionalização e excelência para levar ao produtor rural informações mais precisas e úteis para transformar o dia a dia no campo.''

No dia a dia das propriedades que você visita, o que mais te surpreende, seja de forma positiva ou até curiosa?
Márcio: ''O que mais me surpreende é a persistência do produtor rural. Mesmo enfrentando dificuldades climáticas, econômicas e políticas, ele continua na atividade. Muitas vezes, sem acesso a crédito, com poucos recursos, mas ainda assim insistindo em produzir alimentos.
Quando a gente visita o produtor na propriedade, na casa dele, que é onde ele vive, trabalha e se dedica, percebe essa força. Mesmo com pouca tecnologia ou limitações financeiras, ele consegue fazer um trabalho de excelência. Tivemos, nos últimos anos, quatro frustrações severas de clima, e ainda assim o produtor mantém o otimismo de que a próxima safra pode ser melhor, que os preços podem melhorar. Isso é algo que motiva muito o meu trabalho no dia a dia.''

Tem alguma dica simples, daquelas “de ouro”, que você sempre repete aos produtores e considera essencial para a gestão da propriedade?
Márcio: ''A principal mensagem que eu sempre deixo é: faça o seu trabalho. Independentemente do clima ou do preço, o produtor precisa executar bem aquilo que está ao alcance dele.
O trabalho do produtor é grandioso, mas ao mesmo tempo simples: preparar o solo, fazer a semeadura, nutrir a planta e realizar os tratos culturais para que ela se desenvolva bem. O clima, infelizmente, não está sob nosso controle. Nós somos uma fábrica a céu aberto.
Se o produtor teve dificuldades financeiras e não conseguiu comprar todos os insumos como gostaria, mas conseguiu plantar, a umidade estava boa, havia palhada suficiente, então ele fez o papel dele. Daí para frente, entra o clima. O importante é ter consciência de que ele fez o que estava ao seu alcance.''

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A tecnologia tem avançado muito no agro. Como você vê esse movimento e de que forma a sua estação climática em Ibirubá ajuda na tomada de decisão?
Márcio: ''A tecnologia no agronegócio cresceu de forma exponencial nos últimos dez anos. Hoje, usamos no campo tecnologias que antes pareciam improváveis. Máquinas de grande porte, sistemas que reduzem desperdícios e diminuem a interferência humana nos processos.
Mas sempre digo ao produtor: tecnologia é importante, sim, mas ela precisa ser dosada. Quando aplicada sem controle, pode onerar demais o fluxo de caixa e comprometer novos investimentos. No início, toda tecnologia tem um custo elevado de implantação, e o retorno pode levar anos.
Infelizmente, nos últimos quatro ou cinco anos, muitos produtores não conseguiram avançar tecnologicamente por causa da situação financeira.
No meu caso, sempre fui um apaixonado pelo clima. Se não tivesse seguido a gestão do agronegócio, teria feito meteorologia. Há quase quatro anos, adquiri uma estação climática hiperlocal, instalada no interior de Ibirubá. Ela coleta dados locais e cruza essas informações com dados de institutos meteorológicos internacionais.
Hoje, temos uma base sólida de dados que nos permite fazer previsões mais precisas. Emitimos alertas de excesso de chuva, calor extremo, como recentemente, quando registramos temperaturas acima de 40 graus por vários dias consecutivos. Essas informações ajudam o produtor a se antecipar, evitar prejuízos e planejar melhor suas atividades.''

Como você está enxergando o mercado atual, especialmente os preços dos grãos, e a possível influência do La Niña?
Márcio: ''O mercado é extremamente volátil. Os preços dependem muito dos números de produção, tanto no Brasil quanto em outros países da América do Sul, como Argentina e Paraguai, além dos Estados Unidos, que competem diretamente conosco.
Às vezes, uma informação gerada do outro lado do mundo impacta imediatamente os preços aqui. Tivemos recentemente um exemplo disso, quando a China comprou grandes volumes de soja dos Estados Unidos, mesmo com o Brasil oferecendo preços mais baixos. São decisões políticas e estratégicas que fogem do nosso controle.
Existe a possibilidade de que uma produção menor, em função do La Niña, traga algum benefício nos preços. No entanto, algumas consultorias indicam que, mesmo assim, os preços na próxima safra podem ser menores do que os atuais, o que é preocupante.
O produtor vem acumulando endividamento das últimas cinco safras com perdas. Uma safra menor, com preços baixos, torna a situação muito difícil. Muitos produtores estão apreensivos, porque precisam de uma safra boa e preços melhores para manter a atividade e sustentar suas famílias.''

Para finalizar, Márcio, que mensagem você gostaria de deixar aos produtores e aos nossos leitores?

Márcio: ''A mensagem que eu deixo é que cada produtor faça o seu trabalho da melhor forma possível, dentro das suas condições. Sabemos que muitas vezes não dá para atingir a excelência por causa das limitações financeiras, mas é preciso fazer o melhor possível.
Esperamos sinceramente uma melhora significativa nas condições climáticas da próxima safra, para que o produtor consiga colher, honrar seus compromissos e garantir o sustento da família. Isso é o que mais pesa hoje.

A agricultura se regenera muito rápido. Uma safra boa, com preços melhores, muda o ânimo do produtor, movimenta o comércio e aquece toda a economia. Então, a mensagem é essa: façam o seu trabalho, confiem, e deixem o resto nas mãos de Deus, que sabe exatamente o que faz.
 

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