Conhecido como “o Homem do Tempo”, Vilson registra chuvas e temperaturas desde 1986, tornando seu conhecimento tradicional uma ferramenta valiosa para a agricultura local.
Há quase 40 anos, Vilson Kaiper, morador de Colorado, na região do Alto Jacuí, vem realizando um trabalho minucioso e contínuo de observação climática. Desde 1986, ele registra cada milímetro de chuva, as temperaturas e outras variações climáticas em sua propriedade, utilizando inicialmente papel e caneta. O que começou como uma curiosidade pessoal transformou-se em um acervo climático de grande utilidade para a comunidade agrícola e científica.
O interesse de Vilson pelo clima surgiu de forma despretensiosa, durante uma reunião agrícola onde recebeu um pluviômetro e decidiu registrar as chuvas em sua fazenda. Todos os dias, às 7 horas da manhã, ele verifica o pluviômetro, anotando a quantidade exata de chuva. Em 2002, com a chegada da tecnologia, ele passou a digitalizar suas anotações, preservando um histórico único de observações climáticas. Esse compromisso o levou a ampliar seus registros, incorporando dados de temperaturas, granizo e geadas, criando uma base de dados valiosa para a agricultura local.
Agrônomos e cooperativas da região frequentemente procuram Vilson para obter informações detalhadas sobre o clima. Seus registros, além de incluírem chuvas, também acompanham a produtividade das colheitas, o plantio e a colheita, fornecendo uma visão prática e precisa das condições meteorológicas e agrícolas da região. Em 2010, a Embrapa passou a acessar gratuitamente seus dados para estudos, evidenciando a importância de sua contribuição para a ciência.
Para Vilson, as variações climáticas são naturais e seguem ciclos. Ele recorda, por exemplo, que o ano de 2002 foi o mais chuvoso, com 3.280 mm registrados, enquanto 1991 foi marcado pela seca, com apenas 1.390 mm de chuva. Embora as discussões sobre mudanças climáticas globais sejam frequentes, Vilson acredita que essas variações são cíclicas e sempre ocorreram, mesmo que menos documentadas no passado.
Entre os eventos curiosos que ele presenciou, Vilson lembra de um eclipse solar em 1994, quando o céu escureceu de repente enquanto ele plantava soja. No dia seguinte, uma chuva de 85 mm surpreendeu a todos, mudando o clima de forma inesperada. Esse episódio é apenas um dos muitos que ele registrou ao longo dos anos, destacando a imprevisibilidade do tempo.
Hoje, Vilson Kaiper continua sua missão de observar o clima com a mesma dedicação de quando começou. Seus registros são mais do que dados meteorológicos; eles são um legado vivo de como o clima impacta a vida e os ciclos produtivos da região. Ao combinar seu conhecimento tradicional com a tecnologia moderna, ele tem ajudado a preparar as futuras gerações para lidar com as variações naturais do tempo, contribuindo para uma agricultura mais eficiente e sustentável.