
Na época mais esperada do ano, quando dezembro chegava trazendo esperança, encontros e expectativa, uma figura especial percorria ruas, casas e comunidades de Ibirubá e região. Vestida de Papai Noel, com máscara no rosto para preservar a magia, Paula Paloschi levava muito mais do que presentes: levava atenção, carinho e a sensação de que o Natal era, acima de tudo, um momento de humanidade.
A história de Paula Paloschi é contada hoje pelo filho, Antônio Edison Paloschi, o Paloscão, e pela nora Sirlei, que preservam não apenas fotografias antigas, mas uma herança afetiva que atravessou gerações. “A mãe participava de tudo. Uma hora era Papai Noel, outra hora benzia, arrumava guarda-chuva, trabalhava em madeireira. Ela fazia de tudo para nos criar sem deixar faltar nada dentro de casa”, relembra o filho.
Natural de São Leopoldo, Paula trouxe da cultura alemã o forte vínculo com as tradições natalinas. Ao se mudar para Ibirubá, onde constituiu família, carregou esse espírito consigo. Com a perda precoce do marido, assumiu sozinha a criação dos cinco filhos. “Ela foi mãe e pai ao mesmo tempo. Mostrou o caminho, mostrou coragem”, resume Paloscão.
Foi dentro de casa que nasceu o primeiro Papai Noel. “Ela começou fazendo pra alegrar nós, os filhos. Depois os vizinhos começaram a pedir, e foi se espalhando”, conta. Para manter o encanto, Paula escondia o rosto, mudava a voz e se entregava por completo ao personagem. O que começou como gesto de amor familiar virou tradição comunitária e, também, uma forma digna de complementar a renda da casa.
Sirlei, que conheceu Paula ainda jovem, descreve uma mulher generosa e afetuosa. “Ela era muito boa, gostava de ajudar as pessoas. Comprava bala com o dinheiro dela para distribuir para as crianças. Era a alegria da criançada”, recorda. A primeira vez que viu a sogra vestida de Papai Noel, não estranhou. “Achei bonito. Era algo verdadeiro.”
Paula não limitava sua presença ao Natal. Participava de clubes de mães, eventos comunitários, programas na Rádio Ibirubá, onde tocava sua gaita de boca — a “Sonhadora”, hoje preservada pela família como relíquia. Filha de Jacó Schneider, músico conhecido, levava a música como extensão da alma. “Ela tocava na rádio, ia com a gaitinha. Música sempre esteve com ela”, lembra o filho.
As fotos guardadas contam parte dessa trajetória: registros em preto e branco, imagens do Papai Noel ao lado de lideranças da época, cenas de natais que marcaram famílias inteiras. “Quem não conheceu a dona Paula? Pouca gente. Ibirubá, Quinze de Novembro, a região toda conhecia”, afirma Paloscão.
O reconhecimento veio com o tempo. Hoje, o nome de Paula Paloschi está eternizado na Casa do Papai Noel montada na praça, símbolo de um legado que não pertence apenas à família, mas à cidade. “Quando eu vi aquilo, foi uma emoção profunda. Eu acompanhava ela, via o brilho nos olhos das crianças. Aquilo marcou”, diz o filho.
Mais do que o personagem, o que permanece é o exemplo. “Coragem”, resume Paloscão ao falar da maior herança da mãe. Coragem para criar filhos, para trabalhar sem reclamar, para servir sem esperar retorno. Uma coragem silenciosa, que vestiu barba branca, roupa vermelha e fez do Natal um gesto eterno.
Ao final, fica um agradecimento que a família faz questão de deixar registrado. Em nome próprio e de todos os irmãos, Antônio Edison Paloschi presta uma homenagem à mãe, já em memória. “Nossa mãe nos ensinou valores que carregamos até hoje. Tudo o que somos tem um pouco dela. Esse reconhecimento é também um abraço nosso, de filhos agradecidos, por tudo o que ela fez por nós e por tantas famílias. Onde ela estiver, que saiba que seguimos honrando o seu nome e a sua história.”























