Essa crônica não é sobre guerra, mas sim sobre um dos locais na Ucrânia onde aconteceu uma das piores tragédias ambientais, sociais e mundiais da história: Chernobyl.
Eu fui para lá há um ano atrás, em julho de 2020, e vou descrever como foi o tour que fiz pela região da Usina de Chernobyl e a cidade-fantasma de Pripyat.
10:00h: A primeira fase é o cadastro de todas as pessoas que entram na Zona de Exclusão. Existe inclusive uma “alfândega" onde eles olham o passaporte. Nesse momento recebemos um medidor de radiação que ficará pendurado como um colar durante todo o tour.
11:00h: Depois de todos os trâmites na “fronteira”, entramos na zona de exclusão, que é o perímetro de 10km ao redor do reator 4 da Usina de Chernobyl, onde a cidade de Pripyat se localiza também. Fomos direto para o sarcófago do reator.
Não tinha visto nenhum vídeo anterior onde as pessoas ficavam tão perto, estava um pouco assustada no começo, mas a guia disse que podíamos ficar ali por, no máximo, 15 minutos.
Estar tão próxima do reator (uns 100 metros de distância) é uma sensação estranha. Há 35 anos esse foi o lugar mais perigoso do planeta durante meses, até que conseguiram colocar uma proteção (o sarcófago). Era tudo tentativa e erro.
No final, nenhuma máquina conseguiu fazer o trabalho de reduzir o estrago, então homens foram expostos à radiação gama mais perigosa e mortal do mundo justamente para que o mundo continuasse “normal”. Alguns robôs foram para a lua, mas não ficaram inteiros um minuto no telhado do reator mais próximo do núcleo.
11:30h: Chegamos na entrada da cidade de Pripyat. Essa cidade foi construída para ser uma cidade modelo da ex-URSS.
Os soviéticos foram convidados a morar lá para trabalhar na usina nuclear com a promessa de ótimos apartamentos, a cidade era separada por regiões, e todas tinham restaurante, hotel, mercado, hospital, colégio, parques e creches próximo às suas casas.
Na época da explosão tinham 50 mil pessoas morando em Pripyat. A cidade foi inaugurada em 1970, e a explosão do reator foi dia 26 de abril de 1986.
Depois da explosão, cientistas avisaram que a cidade deveria ser evacuada. As autoridades não aceitavam, mas depois que viram que as pessoas que haviam trabalhado próximos ao reator estavam morrendo em pouco tempo, iniciaram a evacuação.
Como as pessoas saíram: foram enviados de 4.000 a 6.000 policiais e vários ônibus. Os policiais batiam nos apartamentos e diziam que as pessoas tinham 5 minutos para sair, que deveriam colocar o mais importante em uma sacola e ir para o ônibus, e que voltariam depois de 3 dias. Esvaziaram a cidade em menos de 4 horas. Ninguém nunca mais voltou.
Alguns locais que visitamos em Pripyat (principalmente próximo a um rio que foi represado) a radiação gama chegava a quase 50, mais de 100x o nível de radiação que podemos conviver. Isso depois de 35 anos da explosão.
15:00h Termina o tour pela Zona de Exclusão de Chernobyl, o qual durou exatamente 4 horas - da hora que entramos pela fronteira até a hora que passamos no detector de radiação.
Eu questionei minha guia sobre o que acontece se uma pessoa acumula uma radiação maior que a permitida e, ela respondeu que a primeira coisa é tirar os sapatos e lavá-los (pois a radiação está mais concentrada no solo).
Se você tiver interesse em saber mais sobre Chernobyl, acesse meu blog (https://www.tatiluft.com.br/europa/chernobyl-ucrania).
Além de fotos e vídeos, fiz uma pesquisa sobre radiação e outros temas relacionados com a explosão, como:
1) Quem descobriu a radioatividade?
2) Grávidas e a radiação
3) O que aconteceu em Chernobyl?
4) É seguro visitar Chernobyl?
5) O que acontece no corpo de quem recebe uma carga muito alta de radiação?
6) Como funciona o reator de geração de energia nuclear?
7) A limpeza do telhado do Reator 4 de Chernobyl.
Há mais de 100 dias a Rússia invadiu a Ucrânia e, apesar das evoluções que a humanidade fez, temos uma guerra em andamento.
Para mim uma guerra é algo completamente absurdo e invadir um país, uma covardia. Na invasão foi constatado que, com o movimento dos tanques russos, a radiação em Chernobyl aumentou novamente.
Ninguém sabe o que pode acontecer se alguma bomba explodir perto da Zona de Exclusão e, definitivamente, não estamos preparados para outra tragédia mundial.
Desejo, do fundo do coração, que essa guerra termine logo e que possamos voltar a visitar esse país lindo.
Meu nome é Tatiana Luft, vivi em Ibirubá durante minha infância e adolescência. Hoje sou professora na UFRGS e meu hobby é viajar e conhecer países novos (até agora são 86).
Nessa coluna vou contar um pouco sobre minhas viagens e minhas experiências. Meu objetivo é estimular a vontade de viajar sozinho(a), acompanhado(a), com amigos, com ou sem guia, dentro ou fora do Brasil. Espero que vocês gostem!
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