A produção leiteira no Rio Grande do Sul enfrenta uma grave crise decorrente da importação e da baixa remuneração dos produtores, levando muitos agricultores a considerarem o abandono dessa atividade essencial.
Conversamos com Carlos Joel da Silva, presidente da FETAG, durante a Expointer em Esteio para entender a situação e as possíveis soluções para esse problema que afeta a economia local. Segundo Carlos Joel, “nós temos visto muitas famílias largando a produção leiteira, indo para a monocultura, achando que será uma alternativa, por conta das dificuldades atuais.” O leite, que historicamente garantiu a renda dos agricultores, encontra-se em uma situação alarmante, onde os custos de produção superam a remuneração. Sobre as medidas adotadas até o momento, Carlos Joel enfatiza que, embora algumas ações governamentais tenham sido tomadas, como aumento das taxas de importação, “nada foi feito para limitar o leite em pó que entra do Mercosul, principalmente da Argentina e Uruguai.” Ele argumenta que a ausência de cotas para esses produtos importados desequilibra ainda mais o mercado.
“O custo do leite hoje é de R$ 2,25, porém, muitos produtores estão recebendo apenas R$ 1,65 pelo litro de leite produzido.” Carlos Joel destaca que essa diferença significativa entre custo e remuneração está levando muitos produtores à beira do prejuízo e, consequentemente, ao abandono da produção leiteira.
Sobre o papel da CONAB, Carlos Joel sugere que a instituição deveria cumprir seu propósito de balizar preços e regular o mercado. Ele propõe que a CONAB compre aquilo que é necessário, criando um estoque regulador que evite quedas extremas nos preços pagos aos produtores e preços excessivamente altos para os consumidores.
Diante dessa situação crítica, a FETAG tem se mobilizado para buscar soluções que garantam a viabilidade da produção leiteira no Estado. A necessidade de cotas e subsídios é urgente para que os produtores possam competir de maneira justa e para que a economia rural possa se sustentar a longo prazo. Carlos Joel ressalta a importância da atuação governamental nesse contexto: “Nós estamos cobrando o governo para que ele reavalie a situação e crie medidas efetivas, pois precisamos proteger nossa produção leiteira e garantir a renda dos nossos agricultores.” pontua.
Emater de Ibirubá faz balanço do impacto na bacia leiteira
Oneide Ernesto Kumm, Extencionista da Emater, apresentou o panorama do estrago na produção leiteira em Ibirubá desde 2017. Segundo ele no ano de 2017 eram em torno de 500 produtores de leite em Ibirubá com 11 mil vacas que produziam mais de 60 milhões de litros de leite por ano. Em 2021 o número de produtores caiu para 350 e no mais recente levantamento que será apresentado hoje na Expointer esse número é bem menor, apenas 284 produtores, 7900 vacas e uma produção de 39 milhões de litros por ano, fazendo a produção da nossa bacia leiteira diminuir mais de 40% em apenas 5 anos.
Dando continuidade à nossa conversa o presidente da FETAG, comentou sobre a polêmica em torno do vazio sanitário, um período entre safras onde a plantação de soja é restrita. Carlos Joel explica que “o vazio sanitário é importante, porém, precisa ser ajustado de forma a não prejudicar a segunda safra.” Ele argumenta que as regras atuais, embora necessárias, podem impactar negativamente o cultivo subsequente.
“A agricultura familiar precisa se adaptar à realidade em que o meio ambiente está em constante mudança.” Carlos Joel defende que o vazio sanitário deve ser reformulado para que a segunda safra, conhecida como “safrinha”, não seja comprometida. A safrinha é uma estratégia importante para os agricultores familiares, complementando a renda gerada pela safra principal.
Carlos Joel aponta que “a agricultura familiar está produzindo, mas não está garantida.”
Ele enfatiza a necessidade de um programa de desenvolvimento agrícola de longo prazo que forneça estabilidade aos agricultores. Ele menciona que, muitas vezes, os recursos anunciados pelo governo não chegam aos produtores, o que gera incertezas quanto ao financiamento das atividades agrícolas.
Sobre os desafios específicos que a FETAG enfrenta, Carlos Joel aborda a questão do seguro agrícola. Ele aponta para os entraves burocráticos e regras que limitam o acesso dos agricultores familiares a esse recurso crucial.