
Marisa Garmatz e Marta Grave abriram o coração para compartilhar as lutas, aprendizados e conquistas da maternidade atípica. Relatos emocionantes revelam o universo do autismo vivido pelas mães do Benjamin e da Yohanna.
Não é ausência, é presença. Um outro jeito de ser.” A frase, retirada de uma poesia resume com delicadeza o universo vivido por Marisa Garmatz e Marta Cristina Grave, duas mães que enfrentaram o desconhecido quando receberam o diagnóstico de autismo de seus filhos — e fizeram disso uma missão de vida. Elas participaram de uma conversa intensa e verdadeira na tarde que antecedeu a Caminhada da Conscientização, realizada em 2 de abril em Ibirubá.
Marisa é mãe de Benjamin, hoje com seis anos. Ainda durante a amamentação, percebeu que o filho não mantinha contato visual. Educadora por formação, ela reconheceu sinais precoces e iniciou estímulos antes mesmo do diagnóstico oficial, que só veio aos quatro anos. “Foi difícil fechar o diagnóstico porque ele é suporte 1, mas como eu já suspeitava, consegui aceitar com mais leveza e comecei a buscar terapias específicas”, contou.
Já Marta viveu o desafio da pandemia com a filha Yohanna, nascida no fim de 2019. O isolamento impediu interações essenciais nos primeiros anos da menina. “Ela não me olhava nos olhos, não atendia quando chamávamos pelo nome, tinha atraso motor e na fala. Comecei a buscar ajuda e aí chegou o diagnóstico. A gente se pergunta por quê, mas hoje vejo o quanto minha filha transformou a nossa vida”, disse.
As duas mães relatam os altos e baixos da jornada com franqueza: as crises, o esgotamento emocional, a frustração, o medo, o preconceito e a alegria indescritível diante de uma pequena conquista — como um olhar nos olhos ou uma nova palavra dita pela primeira vez. “Já coloquei o Benjamin para dormir no meu colo e fui chorar no banho”, relatou Marisa. “A gente perde a paciência, depois pede desculpas. Eles entendem tudo. Eles sentem tudo”, completou Marta.
Ao longo da entrevista, elas enfatizaram que cada criança com TEA (Transtorno do Espectro Autista) é única. “Não existe um molde. Cada uma tem seu ritmo, suas preferências, seus jeitos. Algumas não falam, mas se expressam. Outras não aceitam colo, mas mostram amor do seu jeito. E tudo isso é válido”, disseram.
Marta e Marisa se conhecem desde a infância. O destino quis que seus filhos estudassem na mesma escola. Conrado, filho mais velho de Marta, virou grande amigo de Benjamin. Essa ligação ajudou a fortalecer o laço entre as famílias e impulsionou o movimento de criação de um grupo de apoio.
“Nos encontramos, nos acolhemos e agora queremos acolher outras mães, outros pais, que estão recebendo o diagnóstico. Eles não estão sozinhos. Nosso grupo se reúne mensalmente, trocamos experiências, desabafamos, aprendemos juntos. A comunidade evangélica nos cede um espaço, e isso foi essencial”, destacou Marisa. A associação, chamada “TEAmo”, pretende abraçar também famílias com outras síndromes, como Down e TDAH. “Nosso grupo é inclusivo. Porque a dor é parecida. E o amor também”, disse Marta.
Elas também fizeram um chamado à reflexão sobre inclusão. “O autista não precisa de pena. Precisa de acolhimento, respeito e oportunidades. Precisa de uma escola preparada, de uma sociedade que compreenda suas diferenças e ofereça caminhos de convivência saudável. E para isso, a política pública precisa existir de verdade”, defenderam.
O diagnóstico precoce, a importância da carteirinha do autista, as limitações das políticas públicas e a esperança em dias melhores foram outros temas abordados. Muitas famílias ainda não têm acesso às terapias necessárias ou sequer conseguem circular pela cidade com os filhos, por falta de rede de apoio e estrutura. “Queremos avançar com a associação, buscar emendas, trazer terapeutas, abrir portas”, disseram, firmes.
Se você receber um sorriso ou um olhar de uma criança atípica, se sinta abençoado. Eles não sorriem para qualquer um.