O Teatro do Moleza, uma trupe familiar vinda de Blumenau (SC), estreia no dia 17 em Ibirubá com um espetáculo que vai muito além da comédia. Com peças diárias e cenários que mudam todas as noites, a companhia promete momentos de riso, afeto e acolhimento. O diferencial? Um ambiente totalmente preparado para receber todas as famílias — inclusive as atípicas — com acessibilidade, conforto e respeito à diversidade sensorial das crianças autistas.
“Eu sou a Alessandra, do Teatro do Moleza, e viemos aqui para falar de alegria, de muitos sorrisos”, resume a artista, que integra a quinta geração de uma família circense. Alessandra divide o palco e os bastidores com o esposo, conhecido como Moleza, e com os filhos Felipe, de 15 anos, e Lucas, que é autista e está no quinto semestre de Pedagogia.
O projeto do Teatro do Moleza nasceu de uma longa trajetória circense que começou com a bisavó do marido de Alessandra, no interior do Rio Grande do Sul. Hoje, a família percorre o estado com uma estrutura montada com muito carinho, especialmente adaptada para receber pessoas com mobilidade reduzida e crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). “O nosso teatro não tem degrau, tem rampas, tem iluminação e som pensados para não causar desconforto. Tudo é planejado para o bem-estar das famílias atípicas”, explica Alessandra.
O cuidado nasceu da experiência pessoal com o filho Lucas. “Ele é nosso termômetro. Às vezes ele bate a mãozinha na orelha e diz ‘mãe, dói’. A gente ajusta tudo com base nisso. E o que é bom para ele, acaba sendo bom para outras crianças também”, conta. O teatro usa uma pulseira de identificação para auxiliar a equipe nos cuidados com o público sensível, e constantemente coleta sugestões dos pais para tornar os espetáculos ainda mais acessíveis.
A proposta do Teatro do Moleza é reunir a família em torno de momentos de descontração e reflexão. São 28 peças diferentes no repertório, com uma nova apresentação a cada noite. O espetáculo de estreia será “Moleza na Casa dos Fantasmas”, uma comédia leve e sem sustos reais — tudo feito para proporcionar apenas gargalhadas. “É tudo pensado para que as crianças possam rir, os pais possam relaxar, e até os avós possam se divertir”, garante Alessandra.
Além das apresentações abertas ao público, o grupo desenvolve projetos especiais com escolas e idosos. Um dos trabalhos destacados é o “Arte de Brincar”, voltado à redução do uso excessivo de telas por crianças, incentivando brincadeiras com materiais recicláveis. Outro projeto é “O Falso Pianista”, peça voltada a idosos, que aborda com leveza temas como a depressão na terceira idade.
A trajetória da trupe é marcada por superação. Em 2019, um tornado destruiu completamente a estrutura do circo enquanto estavam na cidade de Barracão, na divisa entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul. “Perdemos tudo, mas ganhamos algo imensurável: a solidariedade das pessoas. Uma senhora que vivia com o básico, faxineira da prefeitura, nos deu R$ 5. Era tudo o que ela podia. Aquilo valeu mais do que qualquer valor em dinheiro”, relembra Alessandra, emocionada.
Durante a pandemia, quando os espetáculos foram suspensos, a família encontrou um novo caminho. Utilizando máquinas de costura que já possuíam, passaram a confeccionar máscaras personalizadas e outros produtos. “Trabalhávamos das 5 da manhã à meia-noite. Eu dizia: é indigno viver de esmola. Vamos trabalhar!”, afirma a artista.
Agora, com o teatro de volta à estrada, Alessandra convida toda a população de Ibirubá a viver essa experiência. Os ingressos custam R$ 25 (adultos) e R$ 15 (crianças), mas com o cartão-convite distribuído pela cidade, os valores caem para R$ 20 e R$ 10, respectivamente. Crianças com autismo e alunos da APAE não pagam.
“A gente quer que as famílias venham, que se abracem, que riam juntas. O teatro é tempo de qualidade com quem a gente ama. Venham viver essa energia com a gente!”, conclui Alessandra.
