Produtores rurais do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul estão solicitando a revisão da Portaria SDA/MAPA nº 840, de 07 de julho de 2023, que estabeleceu o calendário de semeadura da cultura da soja para a safra de 2023/2024. Segundo os agricultores, o calendário de 100 dias estipulado pela portaria impactará negativamente suas atividades e pode prejudicar suas condições financeiras.
Os estados do Sul do Brasil, em conjunto com as entidades representativas de produtores e cooperativas, já vinham manifestando a necessidade de períodos de semeadura mais elásticos desde 2021, a fim de permitir o cultivo de outras culturas antes da soja. Esse sistema tem se mostrado eficiente e rentável para os produtores, mas a limitação do calendário para 100 dias pode inviabilizar essa prática. “A participação da Câmara através de produtores, entidades representativas, técnicos e integrantes da cadeia produtiva da soja é fundamental para adoção de políticas fitossanitárias”, ressalta Clair Kuhn, diretor-geral adjunto da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi). Presente ao encontro, ele destaca a responsabilidade com que os participantes encaminham as pautas, baseados em números e dados dos órgãos técnicos.
Kuhn destaca ainda que o clima não é algo previsível, “a exemplo do ano passado em que muitos produtores tiveram dificuldades de realizar o plantio dentro do calendário em virtude da falta de chuvas. E neste ano, com a expectativa de El Niño, desta vez a umidade maior pode interferir na semeadura da soja”, explica. Segundo ele, a ampliação do prazo auxilia os produtores a contornar possíveis problemas climáticos, garantindo a segurança e produtividade da cultura. Esta mudança também irá facilitar o controle de pragas e doenças.
No Paraná, por exemplo, algumas regiões têm realizado o plantio de feijão, milho para produção de grãos e milho para produção de silagem na primeira safra, seguido do cultivo de soja em segunda safra, o que tem gerado excelentes resultados e possibilitado o escape das geadas. Com a restrição da janela de semeadura para apenas 100 dias, os produtores terão que cultivar a soja na primeira safra, o que colocará em risco os plantios tardios, principalmente do milho, impactando diretamente nas condições financeiras desses agricultores.
Além disso, os produtores destacam que a ferrugem asiática da soja, que é uma doença que afeta a cultura, não prolifera sem chuva e umidade. Considerando que a região sul do Brasil é afetada por diferentes condições climáticas, a restrição de apenas 100 dias para a semeadura da soja pode dificultar o cumprimento desse período, ocasionando prejuízos aos agricultores.
Diante desses argumentos, os produtores solicitam que o calendário de semeadura da soja seja expandido para a região Sul do Brasil, permitindo o plantio até meados de fevereiro. Essa revisão traria mais segurança aos produtores diante das adversidades climáticas e harmonizaria as datas estipuladas para o vazio sanitário da soja, além de otimizar as ações de fiscalização e controle da praga.“A possibilidade de plantio de milho em grão na primeira safra e soja na segunda safra, permite o incremento de aproximadamente 450 mil toneladas do cereal e 150 mil toneladas da oleaginosa por safra”, destaca Márcio Ücker, consultor do agro em Ibirubá e região. “Os impactos econômicos para o produtor do Rio Grande do Sul e a economia gaúcha são incalculáveis, caso isso não seja alterado”, alerta Ücker. Ele também ressalta a preocupação com os impactos na economia. “Teremos que dimensionar este impacto conforme o andamento do ciclo verão 2023/2024”, finaliza.
O pedido de revisão da Portaria SDA/MAPA nº 840 está em análise pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que avaliará as justificativas apresentadas pelos produtores para tomar uma decisão sobre o calendário de semeadura para a safra 2023/2024.