No cenário esportivo de Ibirubá, o nome Verch é sinônimo de tradição, respeito e dedicação ao futebol. Aristides Verch, ou simplesmente "Tide", tornou-se uma referência não só como jogador, mas também como juiz firme, justo e respeitado. Natural de Vacaria, na Serra Gaúcha, Tide e sua família se mudaram para Ibirubá nos anos 60, onde ele construiu uma carreira marcada pela paixão ao esporte. Hoje, Tide nos conta suas histórias no Baú do Esporte, lembrando com orgulho de uma trajetória que inclui jogos acirrados, desafios no apito e a busca pela honestidade em campo.
Aristides nasceu em 1954 e chegou a Ibirubá ainda pequeno, quando sua família trabalhava na construção do Silo da Cesa. Crescido no campo do Grêmio, Tide começou cedo no futebol. Aos 14 anos, já jogava no juvenil do Grêmio Esportivo, onde iniciou uma longa jornada pelos campos da região. "Nós jogávamos por amor à camisa", lembra Tide, que nunca vestiu outra cor além da amarela.
Gre-Ju e a paixão pelo futebol amador
O futebol amador de Ibirubá foi marcado por clássicos históricos, os "Grejus" entre Grêmio e Juventude, e Tide sempre esteve no meio das rivalidades. “Se ganhávamos, era festa na cidade, desfilávamos com a torcida nas caminhonetes”, recorda. Jogou como zagueiro e volante em diversos momentos da região, sempre mantendo o respeito pelo jogo e pelos companheiros, até encerrar sua carreira devido a uma operação no joelho.
A transição para o apito
Após pendurar as chuteiras, Tide encontrou uma nova paixão: a arbitragem. Ele e Escurinho, então coordenador do CMD, decidiram formar um quadro de arbitragem, substituindo as polêmicas arbitragens que estavam atuando em Ibirubá naquela época, e que constantemente eram alvo de críticas e polêmicas. "A arbitragem que a vinha de Cruz Alta sempre dava problema. Então, decidimos que era a hora de formar nossos próprios árbitros", explica Tide. Com isso, ele e outros ex-jogadores passaram a apitar os jogos, e logo Tide ganhou a aceitação de ser um juiz firme e sem tolerância para bagunça. Tide rapidamente se tornou o preferido para os jogos mais difíceis. "Quando a final era pesada, eu já sabia que era chamado. Florestal e São José, por exemplo, era uma fumaceira", diz Tide, lembrando de partidas marcadas por muita tensão, mas nas quais ele sempre mantinha a ordem. Sua abordagem era clara: "Não dava moleza. Se tinha que expulsar, eu expulsava. Teve um jogador que até disse que não ia sair de campo, mas eu coloquei ele pra fora", conta Tide com um sorriso.Ao longo de sua carreira, Tide foi confrontado com várias propostas para “ajeitar” resultados, especialmente em finais. "Muitas vezes chegaram presidentes de clubes no vestiário, oferecendo dinheiro para garantir a vitória. Eu sempre respondia que, se não saíssem, o jogo não aconteceria", afirma com sinceridade. Para ele, o futebol deve ser honesto, e tirar o título de um clube que trabalhou o ano inteiro para conquistar o troféu seria inconcebível.
Tide também lembra de como se precavia em relação a essas situações: "Eu sempre ficava junto com os meus bandeirinhas. Não deixava espaço para conversas de bastidores". Seu compromisso com a integridade do esporte fez dele uma figura respeitada, não só pelos clubes, mas também por seus colegas de arbitragem.
Desafios na arbitragem
Embora Tide tenha apitado muitos finais importantes e mantido a ordem nos jogos mais acirrados, nem sempre tudo foi tranquilo. Ele relembra um episódio em São Paulo Pontão, onde, após expulsar um jogador, foi agredido pela torcida. "Dois caras conseguiram me ajudar. Foi feia a coisa, acabei tendo que ir pro hospitla e levei pontos", relata Tide, mostrando que, mesmo com todo o respeito conquistado, a arbitragem tem seus riscos. Tide vê com desconfiança a arbitragem no futebol moderno. Ele acredita que ainda há espaço para subornos e manipulações, especialmente em níveis mais altos. “O que falta hoje é honestidade. O juiz precisa ser honesto acima de tudo, e não deixar que a ambição e a ganância o leve a comprometer o esporte”, diz. Mesmo assim, ele se orgulha de nunca ter permitido que a corrupção se espalhasse em sua carreira.
Tide é parte de uma família profundamente ligada ao esporte em Ibirubá. Seus irmãos também seguiram o caminho do futebol, e juntos eles escreveram capítulos importantes da história do futebol amador local. Hoje, Aristides Verch continua a apitar jogos de veteranos, mantendo viva a chama da arbitragem que ele tanto ama. "Sempre fui firme, sempre joguei com amor à camisa. E é assim que o futebol deve ser", conclui. Aos 70 anos, Aristides Verch continua sendo uma figura icônica no esporte de Ibirubá, seja como jogador, zelador do Grêmio ou árbitro idealizador da AIAF (Associação Ibirubense de Árbitros de Futebol), que se reunia durante a semana, após os jogos, no porão da casa do Carlos Truss. Por lá os componentes do quadro de arbitragem analisavam os lances polêmicos e faziam sua avaliação de desempenho das partidas. Quando questionado sobre quem foi seu sucessor no apito, ele responde: Marco Antonio Fagundes de Oliveira, o Bico Seco