
Dra. Karina Gazonato Pereira esclarece mitos, riscos e benefícios do uso de medicamentos injetáveis para emagrecer, cada vez mais procurados em Ibirubá e região.
A crescente busca por medicamentos injetáveis para perda de peso, como a semaglutida — popularmente conhecida pelos nomes comerciais Ozempic e Wegovy — tem despertado tanto interesse quanto preocupações. A endocrinologista Dra. Karina Gazonato Pereira trouxe informações detalhadas sobre o uso dessas substâncias, os riscos do consumo sem acompanhamento médico e a importância de entender a obesidade como uma doença crônica. Segundo ela, a obesidade está presente em mais de 80% dos atendimentos em consultório. “As pessoas muitas vezes procuram emagrecer para um evento específico, como entrar num vestido de casamento, mas o ideal seria que entendessem a perda de peso como algo permanente, porque a obesidade é uma doença crônica e recorrente”, explica.
Medicamentos não são solução mágica
Dra. Karina enfatiza que os chamados remédios para emagrecer não fazem o trabalho sozinhos: “Eles ajudam na dieta, mas não substituem o esforço. Nenhum tratamento funciona sem mudança de estilo de vida”. Sobre a semaglutida, ela explica que o composto foi originalmente desenvolvido para tratar diabetes tipo 2, mas os estudos mostraram efeitos positivos na redução de peso.
“O que esses remédios fazem é atuar sobre a saciedade. Eles simulam o hormônio GLP-1, produzido no intestino, que envia sinais de satisfação ao cérebro. Com a medicação, esse efeito é prolongado, ajudando a controlar o apetite”, detalha.
Apesar de eficazes, os medicamentos não são indicados para todos. “Eles são seguros na maioria dos casos, mas possuem contraindicações e efeitos colaterais. Não devem ser usados por quem não tem obesidade ou problema metabólico. Só ter um ‘pneuzinho’ não justifica o uso”, alerta.
Uso indiscriminado preocupa
Com a popularização da semaglutida em redes sociais e grupos de WhatsApp, muitas pessoas passaram a comprar o medicamento sem prescrição, o que preocupa os profissionais da saúde. “As pessoas veem resultado em outras e acham que podem usar também. Mas remédio não é moda. Cada paciente tem um perfil metabólico diferente. Pode funcionar para um e fazer mal para outro”, pontua a médica.
Ela também destaca que há outras medicações e abordagens que podem ser mais adequadas dependendo da origem do ganho de peso. “Tem gente que come por compulsão, por ansiedade, por prazer. Cada situação exige uma análise diferente e, muitas vezes, um tratamento multidisciplinar.”
Estética x saúde: uma distinção necessária
Questionada sobre a confusão entre o padrão estético e o conceito de saúde, Dra. Karina reforça: “A gordura visceral — aquela acumulada na região abdominal — é a mais perigosa. É ela que aumenta o risco de doenças cardiovasculares, diabetes, câncer. Já aquela gordura subcutânea, que fica nos quadris ou coxas, é esteticamente indesejada, mas não necessariamente faz mal à saúde”.
Ela ainda esclarece que exames clínicos, circunferência abdominal e check-ups metabólicos são fundamentais para diferenciar o “gordinho saudável” daquele que precisa de intervenção médica urgente.
Obesidade infantil também preocupa
A endocrinologista alerta ainda para o aumento da obesidade infantil. “Quanto mais cedo a obesidade aparece, mais difícil será revertê-la na fase adulta''. Ela defende o papel da escola e das políticas públicas na promoção da saúde, inclusive na composição das merendas escolares.
Primeiros passos para quem quer mudar
“Comece com um check-up. Mesmo que você se sinta bem, um exame pode mostrar alterações que merecem atenção, como o pré-diabetes”, orienta. Segundo a médica, esse estágio ainda é reversível com ajustes no estilo de vida. Por fim, Dra. Karina lembra que o acompanhamento médico contínuo é essencial: “Não é uma consulta só. É tratamento, acompanhamento, ajustes. E o paciente precisa querer mudar”.