Em 2002, Márcio foi refém de um sequestrador enquanto apresentava seu programa na Rádio Atlântida. Em entrevista exclusiva a Rádio Cidade e ao Jornal O Alto Jacuí, direto de Portugal, ele relembrou dos principais momentos da carreira
A carreira de um comunicador é tecida de muitas histórias, de momentos marcantes e inesquecíveis.
Podemos dizer que são os comunicadores os profissionais que vivenciam todo tipo de experiência, em diferentes áreas.
Na história de Márcio Paz, comunicador de rádio que trabalhou anos na Rádio Atlântida, que possui uma relevância no meio da comunicação, são muitos os fatos que marcaram sua trajetória, entre eles foi refém de um músico em 2002, enquanto estava ao vivo no seu programa.
Em uma entrevista exclusiva à Rádio Cidade e ao Jornal O Alto Jacuí, esbanjando carisma e simpatia, Marcio relembrou esse fato e falou sobre sua carreira.
Direto de Portugal, onde mora há um ano, ele presta serviços e possui programas em diferentes rádios pelo Brasil.
Sua história no rádio começou há 32 anos, em Alegrete. Começou atuar em uma rádio local, logo depois foi para Santa Maria onde passou a trabalhar no grupo RBS, coordenou a rádio Atlântida, a antiga rádio Itapema e a rádio Gaúcha.
Um tempo depois teve uma experiência na TV, no SBT no Rio de Janeiro, mas não se adaptou.
“A barba branca é de muitos anos de trabalho, são 32 anos no rádio. Quando fui para o Rio de Janeiro acabei vendo o lado ruim da cidade e não me adaptei. Mas vejo que os gaúchos são muito valorizados no resto do Brasil”, observa.
Na visão de Márcio o rádio virou um portal e precisa se adaptar às mudanças que o mundo como um todo vive. Em Portugal, segundo ele, as rádios são muito novas ainda.
“As rádios não vão acabar, mas elas precisam se adequar aos sistemas. Se não tiver comunicando para todas as redes, acaba ficando em risco. Mas virou um grande portal de geração de conteúdo também”, afirma.
Ao longo da carreira, Marcio colecionou grandes mestres, como Jorge Brites, um dos maiores gestores da RBS, Gerson Pontes e Tadeu Malta.
“Essas figuras foram fundamentais na minha caminhada, o que mais gostei na rádio foram os amigos que fui conquistando ao longo do tempo”, destaca.
Sequestro em 2002
Marcio estava ao vivo no programa líder de audiência da Rádio Atlântida quando foi surpreendido, em 2001, por um sequestro.
Foi feito refém por mais de uma hora, com uma arma na cabeça e obrigado a tocar diversas vezes o CD que o sequestrador havia gravado e que tinha sido rejeitado por diversos veículos.
Ao lembrar da história Márcio destaca que foi o que mais lhe marcou na carreira.
“São vários sentimentos que vem quando lembro e falo disso. Qualquer ato de violência é triste, lido com isso com tranquilidade e sou grato por não ter acontecido nada comigo nem com ele”, afirma.
No dia do sequestro todo o prédio da rádio foi evacuado e inúmeros policiais cercaram a região.
“Eu estava comendo um sanduíche quando ele entrou, o sequestro durou 1h20 e lembro que ele dizia que eu poderia comer o resto. Hoje dou risada disso, mas foram momentos de tensão com a arma apontada para minha cabeça”, conta.
Márcio estava no ar com mais duas pessoas no estúdio, o sequestrador entrou com um chapéu, óculos e um capote, pediu para que todos saíssem e ficou somente com Marcio.
“No início pensei que era algum protesto político, mas vi que era uma arma de verdade. Ele me deu o CD dele e pediu que eu tocasse todas as músicas e dissesse ao vivo que a rádio estava sitiada e que o CD estava sendo vendido em um determinado lugar”, relembra.
Depois do ocorrido Márcio foi entrevistado por um repórter da Alemanha, para contar a história
Período em Portugal
Há um ano Marcio mora em Portugal, um país que segundo ele para onde você olha tem histórias. Através do seu canal no Youtube, ele apresenta diferentes pontos turísticos das cidades por onde passou.
No entanto, a saudade do Brasil e a flexibilidade de trabalhar de onde estiver, motivou ele a esposa a voltarem para o país.
"Estávamos com saudades do Brasil, alguns planos mudaram e falei para minha esposa que tinha vontade de voltar, e ela também. Nosso compromisso é com a nossa felicidade, então logo estamos voltando”, contou.
Lições que os 32 anos do rádio deixam
A maior lição que o sequestro pelo qual Márcio passou e toda sua bagagem de experiências lhe deixa é a responsabilidade com o trabalho e com sua profissão.
“Quando falamos para tanta gente, temos que ter muita responsabilidade e acho que hoje poucos profissionais têm essa noção”, conta.
Na época do sequestro Márcio tinha uma média de 100 ouvintes por hora.
“Ter essa noção da responsabilidade que eu tinha foi o que mais pesou. A mudança de mentalidade aconteceu mais com a vinda para Portugal e olhando o país de fora, vendo as coisas boas e ruins”, afirma.
Em relação a polarização que cada vez mais está presente no Brasil, principalmente no meio político, Márcio afirma que é importante que os comunicadores tragam verdades.
“Não é proibido o jornalista escolher um lado. Mas prefiro um jornalismo isento, e justo. Jornalismo é um quarto poder, pode ter essa força de distorção e mexer na balança”, pontuou.