10 de abril, 2022 19h04m Notícias Gerais

Um pouco do mundo na bagagem e na memória

A Ibirubense Tatiana Luft já viajou para mais de 80 países. Pós-doutoranda em estimulação transcraniana, ela explica a importância de estimular o cérebro com atividades simples e como viajar, seja a lugares distantes ou perto, pode mudar o comportamento humano 

A ibirubense Tatiana Luft já viajou mais de 80 países. Carrega na memória momentos, histórias e caminhos que são lembrados e compartilhados com muito carinho.

Com uma trajetória profissional ligada à ciência, Tati é pós-doutoranda em um pesquisa que trabalha com a estimulação transcraniana.

Filha de Anildo e Rose, seguidamente ela visita Ibirubá e nesta semana, mais uma vez concedeu uma entrevista a Rádio Cidade e ao Jornal o Alto Jacuí. 

O desejo por viajar, conhecer novos lugares, pessoas e culturas foi incentivado desde criança. Filha mais nova, Tati teve a referência dos irmãos Tânia, Rogério e Renato, que saíram de casa para morar em outros lugares.

Tânia mora em Brasília, Rogério em São Paulo e Renato em Porto Alegre. Da infância à adolescência, as lembranças são de viagens, passeios e sempre novas histórias. Os pais, que são casados há 65 anos, foram os maiores incentivadores para que os filhos alçassem os voos para alcançar novos desafios. “Eles sempre nos incentivaram muito a estudar, na nossa época não tinha universidades próximas. Meus irmãos foram para Porto Alegre, e cresci sabendo que teria que ir estudar em outro lugar. Isso me trazia uma alegria, essa independencia”, contou. 

Viajar sozinha 

Tati realizou a maioria das suas viagens sozinha, o que nunca foi problema. Ela lembra que quando entrou, aos 16 anos, na faculdade, morou por um período com o irmão Rogério em Porto Alegre, mas que ele precisou se mudar e logo ela se viu sozinha.

“No começo foi assustador, mas pensava que iria fazer o que eu queria. O que acaba por ser uma ilusão, porque se quisermos fazer temos que assumir a responsabilidade e assumi”, contou.

Para se dedicar a viagens e a carreira, Tati optou por não ter filhos, mas assume que se tivesse, iria incentivar as viagens e comunicação com diversas culturas. Ela brinca que o desejo seria deixar o filho seis meses em algum lugar diferente, para aprender a falar diversos idiomas.

As pessoas dão risada quando eu falo isso, mas o aprendizado só não é maior porque muitas vezes não usamos, pois não é estimulado. As crianças conseguem falar desde pequeno duas linhas, sem nenhum sotaque e isso é muito bom”. 

Formação profissional

Formada em Biologia na PUC, Tatiana brinca que se considera uma bióloga fajuta. Isso porque, o gosto pela área mais humana sempre falou mais alto.

Ela conta que através das bolsas de estudos e estágios em laboratórios começou a estudar sobre desenvolvimento e genética.

Quando terminou a graduação passou a dar aula em um cursinho pré-vestibular, e através de uma vaga que se inscreveu, passou para ser professora substituta de histologia, para uma turma de medicina da UFRGS.

“Tinha 21 anos nessa época, os alunos eram praticamente da minha idade. Lembro que me matava estudando para dar as aulas e amei dar aula de histologia. Com essa ideia eu pensei que era isso que eu gostaria de fazer, e ingressei no mestrado e doutorado”.

Nesse momento Tati precisou escolher para qual área iria direcionar seus estudos. Ela sempre gostou do sistema nervoso, justamente por não entender tanto como entendia dos outros, e optou por focar na área de memória.

Entre as diversas explicações que envolvem a memória, está a necessidade de fazer o cérebro trabalhar para conseguir guardar as informações.

As memórias afetivas, emotivas são as que mais conseguimos guardar. As coisas de rotina, que são no automático não guardamos, de um aniversário não lembramos, mas lembra de uma tragédia, da morte de alguém”, observou. 

Covid-19 e memória 

A perda de memória e a Covid-19 estão relacionadas por diversos fatores, um deles é a mudança de hábitos que a Pandemia exigiu.

A mudança no comportamento, onde uns passaram a comer mais, a olhar mais TV e a sair menos, impactou na forma do cérebro trabalhar.

Outro ponto destacado por Tati é as pesquisas relacionadas ao Covid, ela lembra que mais de dois mil artigos foram publicados por semana que tratavam sobre a doença, o que gerou uma série de informações.

Os cientistas foram muito criticados por falar uma coisa no começo e depois mudar, mas foi uma época com muita informação. E mesmo assim hoje, por ser algo novo, não se pode dizer o que aconteceu. Algumas coisas básicas como o olfato, está ligado ao sistema nervoso”, explicou. 

Para que o cérebro funcione da melhor forma possível, é necessário realizar atividades que exijam atenção, seja uma palavra cruzada, seja um jogo simples, seja pegar um caminho diferente para ir ao trabalho. Tudo é essencial para o funcionamento.

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É muito importante fazer algo diferente, seja o que for, muitas vezes não para aprender, mas para exercitiar”. 

Estimulação transcraniana

No pós-doutorado em Londres, Tati estuda a estimulação transcraniana, onde uma toca é colocada na cabeça com eletrodos, que a partir de um aparelho muda as ondas cerebrais dos neurônios.

Os estudos indicam que quando existe esse estímulo as ondas cerebrais mudam e podem alterar as estruturas, sendo indicado por exemplo para casos de enxaqueca, depressão, parkinson e afasia.

“Essa estimulação trabalha direto no cérebro, como se fosse uma massagem cerebral. Precisamos começar a fazer no Brasil mais estudos para que seja autorizado pela Anvisa”, explicou Tati, que trabalhou durante um ano com esse sistema em Londres. 

Um pouco do Brasil em cada país 

Dos diversos países que Tati visitou, a Austrália é o que ela acredita ser mais parecido com o Brasil. Com 12h de diferença, ela conta que o corpo reage com estranheza nos primeiros dias.

Em cada viagem a rotina muda, e é difícil tentar seguir o que se faz em casa, quando se está passeando.

Não tento levar de volta para a rotina, adaptado conforme o país. Na Austrália dormia antes do pôr do sol e acordava antes do nascer. É um lugar muito parecido com o Brasil, existe essa receptividade”, contou. 

Na visão de Tati, o Brasil se encontra em uma bifurcação. Para exemplificar seu ponto de vista ela menciona a cantora Anitta, que recentemente ficou em primeiro lugar com a música mais ouvida em todo o mundo.

“Ninguém confunde ela com ninguém, todo mundo sabe que ela é brasileira. Acho que o que falta hoje nós brasileiros é não valorizar, não precisa gostar, não precisa ser o teu estilo. Mas é uma mulher brasileira, é a representatividade do brasileiro hoje lá fora”, afirmou.

A forma como o brasileiro se coloca hoje, sendo crítico sobre tudo, é algo que poderia ser mudado na visão de Tiati. “O brasileiro deveria se unir e preservar mais o que tem no Brasil. Quando falo que sou brasileira já não tem mais essa animação”, 

O destino da próxima viagem de Tati será o Canadá, se der certo todo o seu planejamento. Recentemente, com o início da guerra na Ucrânia, ela se deparou com um sentimento difícil, de ver um lugar que já visitou ser tomado pela destruição.

Em 2019 e 2021 Tati foi a Aldesa, conhecer o mar negro. Visitou Kiev, Chernobyl, cidades que hoje sofrem com a invasão ucraniana.

Cada vez que vejo é lugar que tenho uma foto e que agora está destruído. Fico pensando nessas pessoas que saem dela sem saber outra língua, indo para um lugar desconhecido”, reflete.

Tati compartilha em seu blog e em suas redes sociais seus relatos e dicas de viagem, ela destaca que viajar é uma opção de vida, que para se concretizar precisou abrir mão de outras coisas.

“Todas as histórias que conto são para incentivar as pessoas, para quem gostaria de viajar e não tem condições, ou para quem tem e não tem coragem”, finalizou.

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