Há mais de 41 anos na área da saúde, a Dr.a Mirian Peukert continua sua caminhada de profissionalismo e carinho pela vida
Recentemente, buscando algumas informações nos arquivos do Jornal O Alto Jacuí, encontramos uma matéria vinculada a edição de 16 de fevereiro de 1979, naquele dia, a doutora Mirian Peukert era destaque do jornal sendo a primeira médica Ibirubense a clinicar na cidade. Naquela entrevista de 1979, uma pergunta nos chama atenção:
OAJ (1979) Como você se sente como a primeira médica de Ibirubá?
Dr.a Mirian Peukert: O fato de ser a primeira médica de Ibirubá, traz para mim uma responsabilidade maior: de tratar com especial atenção aos meus pacientes, principalmente porque na grande maioria antes de pacientes, eles são amigos ou pessoas conhecidas minhas.
Hoje, mais de 41 anos depois, entrevistamos a doutora Mirian, uma conhecida médica na região, querida pela comunidade e pelos seus milhares de pacientes.
OAJ: Conte-nos um pouco da sua jornada, como entraste na medicina, visto que nos anos 70 não era tão comum uma mulher estar à frente de um cargo tão importante.
Mirian Peukert: Realmente, na época havia um certo receio em ter mulheres na medicina, eu tive que fazer uma campanha em casa, para convencer meus pais que eu queria fazer medicina. Meu pai, para época dele, ele achava que eu já tinha estudo suficiente, ele dizia que após eu terminar o ginásio eu não precisava estudar mais, já que logo eu poderia casar, então ele queria que eu trabalhasse com ele na loja que tínhamos em frente a antiga rodoviária, já minha mãe entendia um pouco mais sobre isso, já que a família da minha mãe era uma família que normalmente trabalhavam fora. Minhas tias, praticamente todas já trabalhavam fora, então minha mãe tinha uma mente mais aberta em relação a eu estudar e ter minha profissão. Eu me espelhava muito na minha tia que tinha feito jornalismo e trabalhava em Porto Alegre na Editora Globo. Então, decidida a fazer medicina eu comecei minha caminhada pelos estudos, me matriculei em Cruz Alta para estudar, já que na época Cruz Alta era uma grande referência no ensino, porém, como eu queria medicina eu percebi que o estudo em Cruz Alta era muito fraco para aquilo que eu estava procurando, então me matriculei em Santa Maria, após terminar meu segundo ano do segundo grau eu decidi ir para Porto Alegre. Fiz minha seleção na escola PIO 12, lá eu fiz meu terceiro ano. Chegado naquele fim de ano eu fiz o vestibular e passei para medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
OAJ: E como foi ingressar numa importante faculdade naquela época, como contou para seus pais?
Mirian Peukert: Chegando na UFRGS, tivemos que fazer 6 meses de curso, esse curso era um curso que reunia todos os cursos da faculdade. Lá eu encontrei gente de todos os lugares, havia muitas panelinhas, a maioria dos alunos eram de famílias com grandes condições financeiras, frequentavam clubes, tinham suas roupas lavadas, e nós do interior quando muito nos reunimos para tomar um chimarrão e comer uma pipoca, quando tínhamos condições de ir no cinema fazíamos uma grande festa na república, na época eu morava com mais 5 meninas na república.
Me lembro bem quando eu contei para meus pais, na época não tínhamos telefone, então eu liguei para a rodoviária e pedi que chamassem meus pais para falarem comigo no telefone, então dei a notícia pra eles, dessa forma eu avisei eles. Quando eu cheguei em Ibirubá uma semana depois eu encontrei todos muito felizes e orgulhosos. Na época meu pai me deu um valor de presente por eu ter passado no vestibular, me lembro perfeitamente como se fosse hoje, eu fui numa loja na rua da Praia em Porto Alegre e comprei uma calça e uma camisa na cor laranja. E assim iniciei minha jornada de estudos na faculdade em Porto Alegre. No total fiquei 10 anos em Porto Alegre, terminei meu estudo lá, fiz 6 anos de medicina, voltei formada para Ibirubá, fiquei um tempo em Ibirubá e após retornei para Porto Alegre para fazer minha especialização, fiquei mais 2 anos em Porto Alegre, nessa época meu filho já havia nascido, fomos eu, meu marido e minha cunhada.
OAJ: Na sua opinião, o que mudou nesses 41 anos de vida na medicina?
Mirian Peukert: Olha, muita coisa mudou, muito se evoluiu na medicina, mas uma coisa que eu sinto que mudou muito e o trato que muitos tem pelo médico hoje em dia. Antigamente, na época o médico era uma figura central, as pessoas vinham até o médico e confiavam sua vida a ele, naquela época era comum o médico atender inclusive em casa. Hoje em dia muitas vezes as pessoas chegam nos consultórios já com uma pré-consulta feita na internet, já chegam muitas vezes com um laudo emitido por elas mesmo, desmerecendo muitas vezes a bagagem de estudo que o profissional da medicina tem. Falta o respeito e o prestígio que o médico tinha naquela época, trabalhava com poucos recursos muitas vezes de forma heroica, hoje se tem muitos recursos e muito pouco prestígio como figura médica.
OAJ: Quem inspirou a senhora a entrar na medicina?
Mirian Peukert: Eu me inspirei muito no doutor Eurico, figura centrada, muito técnica e diplomática, tenho saudades dessa época, a época que o médico era médico, respeitado e prestigiado. Aprendi muito com o doutor Eurico, ele tinha uma bondade muito grande, tinha um cuidado ao falar ao agir. Me inspirei muito nele.