1) Quais principais cuidados essenciais que precisamos ter para proteger o coração?
O coração é uma máquina poderosa que tem como principal função promover a circulação de sangue pelo nosso corpo, mas ao mesmo tempo, ele também precisa deste mesmo sangue como combustível do seu funcionamento. Entender isso é compreender que toda e qualquer alteração no sangue e neste sistema circulatório atinge diretamente o coração.
Realizar exercícios físicos regulares é um fator importante para a saúde circulatória, pois são produzidos hormônios que dilatam as artérias, melhorando o fluxo de sangue, a oxigenação e a distribuição de nutrientes, assim como retira com mais facilidade as substâncias tóxicas ao organismo.
A alimentação é outro fator importantíssimo, pois praticamente todas as substâncias ingeridas irão para o sistema circulatório. Gorduras, açúcares, sal, carne vermelha, principalmente quando defumada/processada, promovem importantes alterações nos vasos sanguíneos.
Além dessas “condições naturais”, temos intoxicações auto-impostas, com o uso de energéticos, cigarro, bebidas alcoólicas, maconha, cocaína, crack, anfetaminas e tantas outras substâncias que definitivamente alteram o nosso organismo aguda e cronicamente, a ponto de prejudicar a qualidade e curtar o tempo de vida.
E, finalmente, há um fator que muitas vezes depende de condições fora do nosso alcance para o seu controle, e outras tantas vezes, podemos apenas minimizar. Este é o Estresse, decorrente do dia-a-dia, das condições sociais, familiares e econômicas.
Basicamente os quatro grandes fatores acima agravarão tendências genéticas e também se refletirão em doenças como a pressão alta, a diabetes, a dislipidemia, a obesidade, o que promove a aterosclerose e as suas manifestações conhecidas popularmente como infarto e derrame.
2) A partir de que idade as pessoas entram em situação de risco?
No geral, considera-se iniciar a avaliação de risco cardiovascular após os 40 anos em homens e mulheres. Abaixo dessa idade a indicação decorre de fatores como a presença de familiares próximos com colesterol e/ou triglicerídeos, infarto do miocárdio, derrame ou morte súbita antes dos 55 anos em homens e 65 anos em mulheres; ter diabetes; pressão alta; problema nos rins; doenças reumáticas como Lupus, Psoríase e Artrite reumatoide; HIV ; ou mulheres que tiveram pré-eclâmpsia.
3) Qual a relação do colesterol com o risco cardíaco?
Simplificadamente, existem dois tipos de colesterol; o HDL, chamado de colesterol bom, que ajuda a proteger o coração; e o LDL, chamado de colesterol ruim, que pode provocar a obstrução da circulação no coração.
Quando o LDL aumenta muito, células do nosso organismo tentam retirar ele da circulação. Elas fazem isso “engolindo” o LDL e então entram na parede do vaso sanguíneo e ficam ali depositadas. Quando isso acontece de uma forma intensa e repetitiva, formação a famosa placa de gordura, que aumenta gradativamente até trancar a circulação.
O HDL ajuda a remover o LDL da circulação sem que aconteça esse processo descrito acima pelas células, mas a eficiência dele é menor do que se acreditava antigamente.
4) A alimentação é predominante nas alterações de colesterol?
A alimentação ajuda bastante nas alterações do colesterol, mas não é predominante.
Apenas 30% do colesterol decorre da alimentação, 70% é produzido pelo nosso corpo, pois ele é útil para a produção de células e hormônios. Apesar disso, sempre que há uma dislipidemia, a dieta alimentar é muito importante para reduzir o colesterol, evitando assim as medicações ou pelo menos diminuir a dose necessária.
O triglicerídeo é uma gordura que funciona de forma diferente, pois 90% dele é derivado da alimentação, então diminuir açucares e massas controla-o em quase todos os casos.
5) O que significa colesterol bom e ruim? Qual a medida ideal ?
O colesterol bom, que é o HDL ajuda a retirar o colesterol ruim da circulação. O ideal é termos valores acima de 40 mg/dl em mulheres e acima de 50 mg/dl em homens.
O LDL é o colesterol ruim, que é um importante responsável pela obstrução da circulação. O nível ideal no sangue vai depender da existência de outros fatores, por exemplo, pessoas com baixo risco deve ter valores abaixo de 130 mg/dL, mas pessoas que já tiveram infarto do miocárdio ou derrame cerebral precisam ter valores menores que 50 mg/dl.
6) De quanto em quanto tempo é necessário fazer exames? Que tipo de exames são necessários?
Os exames para avaliação do risco cardiovascular devem ser anuais em pessoas acima de 40 anos, e entre os 20-39 anos podem ser a cada 5 anos, mas esse período pode mudar a medida que forem identificadas doenças como as listadas na questão 02.
Inicialmente precisamos avaliar a idade, a existência de sintomas gerais ou específicos, fazer o exame físico, medir a pressão arterial, solicitar os exames de colesterol total, HDL, LDL, triglicerídeos, exames de função renal, ácido úrico, hemograma, e outros que o médico julgar necessário. À medida que há sintomas de alguma doença no organismo, que o exame físico e/ou laboratorial for alterando haverá a necessidade de outras avaliações, como exames laboratoriais mais específicos, teste ergométrico, ecodoppler de carótidas, ecocardiograma, tomografia coronariana, etc.
7) Um jovem na faixa etária dos 20 poucos anos corre o risco de sofrer infarto?
Corre o risco sim, mas esse risco é muito baixo e depende de condições especiais.
O infarto do miocárdio clássico, que é a obstrução coronariana por placa de gordura, ocorrerá nessa faixa etária apenas se houver dislipidemia hereditária intensa, com valores de colesterol muito altos desde a infância, ou alguma doença renal que provoque hipertensão não controlada ou uma diabetes iniciada na infância sem controle adequado.
Em jovens na faixa etária dos 20 anos, a maioria dos infartos ocorre por espasmo ou rompimento interno das coronárias pelo uso de substâncias como energéticos, cocaína, crack e anfetaminas como o ecstasy.
8) Quais as dicas que você passaria para as pessoas cuidarem de seu sistema circulatório?
Alimentem-se corretamente, diminuindo a carne vermelha, as gorduras e carbohidratos, eliminando praticamente todos os açucares e alimentos processados prontos. Aumente a ingesta de peixes, carnes brancas, frutas secas como nozes, castanha, amendoim, vegetais e frutas de todos os tipos.
Exercitem-se regularmente. O ideal é mais de 150 minutos por semana de caminhadas entre 4-6 km/h ou 75 minutos por semana de caminhadas acima de 6 km/h. MAS qualquer atividade física ajuda na prevenção cardiovascular, independente do tempo e do tipo, academia, pilates, esportes, atividades de lazer, qualquer coisa. Faça algo que movimente o corpo e a circulação. O ser humano não foi criado para ficar parado.
Não usem drogas, não envenenem seus corpos com o tabaco, álcool, maconha e outras substâncias. Sempre haverá um prejuízo e haverá um preço, mais cedo ou mais tarde, e este preço sempre é alto.
Tenham bons pensamentos; evitem a raiva e a inveja; procurem entender os familiares; não agonizem pelos problemas de outras pessoas, pois cada um é responsável por si; façam amizades; descansem quando podem e acreditem que o mundo não vai acabar se algo não for feito imediatamente ou se você for sair de férias. Ninguém é o centro do mundo, infalível ou insubstituível.
Vivam com paz no coração.
Essas são as dicas que eu e todos os cardiologistas estão difundindo pelo mundo. Não são fáceis, o mundo é um lugar complicado, mas não é impossível realizá-las com paciência, dedicação e compreensão.
Dr. Jeferson Wollmeister, Cardiologista, CRM/RS 24764
Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia
Especialista em Ecocardiografia pelo Departamente de Imagem Cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia.