17 de Fevereiro, 2025 15h02mDESTAQUE OAJ por Redação Integrada Rádio Cidade de Ibirubá e Jornal O Alto Jacuí

História, cultura e patrimônio: a imigração pomerana em Ibirubá

Heinemann falou sobre o filme que retrata a história da família e sua exibição pelo Brasil e Europa.

O historiador e pastor José Carlos Heinemann esteve em Ibirubá para falar sobre a imigração pomerana e o legado da família Gabe. Em entrevista ao OAJ ele destacou a importância da preservação da cultura pomerana, a história das famílias pioneiras e o futuro da propriedade Gabe.

A imigração pomerana no Brasil é uma história de desafios, identidade e resiliência. Em Ibirubá e região, a presença dos pomeranos foi essencial para o desenvolvimento econômico e cultural, e famílias pioneiras como os Gabe ajudaram a construir essa trajetória. O historiador e pastor luterano José Carlos Heinemann, referência no estudo da imigração pomerana, esteve na cidade para uma série de encontros e entrevistas, trazendo à tona reflexões sobre a preservação da cultura, da língua e do patrimônio histórico pomerano na região.
Entre os principais temas abordados, Heinemann destacou a importância da família Gabe, que manteve tradições e preservou um dos últimos trechos de mata virgem do Rio Grande do Sul, além de ser responsável por fornecer água potável para grande parte da cidade durante décadas. 
A imigração pomerana e a contribuição para Ibirubá
Os pomeranos tem origem entre a atual Alemanha e a Polônia. Ao longo dos séculos, essa população enfrentou conflitos, crises econômicas e disputas políticas que os levaram a buscar uma nova vida no Brasil. Chegaram ao país a partir de 1857 e se estabeleceram em diversas regiões, incluindo o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Espírito Santo.
Em Ibirubá, chegaram entre o fim do século XIX e o início do século XX, trazendo consigo costumes, um idioma próprio e um modo de vida marcado pelo trabalho árduo na agricultura e no comércio. “Os pomeranos sempre foram um povo ligado à terra. A agricultura, a criação de animais e a preservação do meio ambiente sempre foram valores fundamentais para eles”, afirmou o historiador.
Entre as famílias mais conhecidas da região, os Gabe se destacaram pela forma como mantiveram viva a tradição pomerana e pela relação cuidadosa com o meio ambiente. Eles preservaram uma extensa área de mata nativa e foram responsáveis por cultivar espécies de árvores trazidas da Europa, criando um verdadeiro santuário ecológico dentro da cidade.
A personalidade e a resistência de Edgar Gabe
Heinemann construiu uma relação próxima com Edgar Gabe, último descendente direto da família. Em 2005, nos 50 anos de Ibirubá, foi gravado um documentário sobre a história da família, mostrando seu dia a dia, suas tradições e o isolamento que manteve ao longo das décadas. “O Edgar foi um dos pomeranos mais difíceis com quem já conversei. Ele era reservado, desconfiado, mas quando aceitou contar sua história, sabia que estava fazendo algo importante para a memória de Ibirubá”, relatou Heinemann. O documentário foi exibido em diversas cidades do Brasil e também na Europa, levando o nome de Ibirubá para um público amplo.Segundo o historiador, Edgar Gabe sempre teve consciência do valor da propriedade e da floresta que preservava. Seu pai, ao perceber que algumas espécies de árvores europeias poderiam ser cultivadas no Brasil, solicitou sementes da Alemanha, plantando árvores raras no local. Hoje, a propriedade abriga espécies que não são encontradas em outras partes do país, incluindo uma palmeira da Namíbia e pinheiros centenários.
Outro aspecto marcante da história da família Gabe foi seu papel no abastecimento de água de Ibirubá. Durante mais de 30 anos, a água da propriedade abasteceu 60% da cidade sem qualquer cobrança. “O presidente da Corsan me disse que a água mais pura do Rio Grande do Sul estava lá na propriedade da família Gabe. Isso é um patrimônio natural inestimável”, ressaltou Heinemann.
O futuro da propriedade da família Gabe
Com a morte de Edgar Gabe e de sua irmã Paula, a propriedade passou a ser alvo de disputas judiciais e especulações sobre seu futuro. Sem herdeiros diretos, o local se tornou um território cobiçado por diferentes grupos, incluindo investidores interessados na valorização imobiliária da área.
Heinemann lembrou que Edgar Gabe já previa que sua terra se tornaria alvo de disputas. “Ele me disse: ‘Depois que eu partir, você verá gente até do céu reivindicando essa terra’. E foi exatamente o que aconteceu”, contou o historiador.
Para Heinemann, a melhor solução para a área seria transformá-la em um centro de turismo ecológico e cultural. Ele citou exemplos de cidades que investiram na preservação da memória e do meio ambiente como forma de fomentar a economia e atrair visitantes. “Novo Hamburgo, por exemplo, tem um turismo religioso estruturado. Ibirubá poderia desenvolver um projeto semelhante, valorizando sua história e a importância da família Gabe para a cidade”, sugeriu. No entanto, ele reconhece que a situação é complexa e que há muitos interesses em jogo. “Hoje, a prefeitura está numa posição delicada. Indenizar os compradores de terras seria um custo altíssimo. O melhor caminho é criar um movimento de união entre os interessados e buscar uma solução que respeite o legado da família Gabe e beneficie a comunidade”, avaliou.União e planejamento para preservar o legado da família Gabe
José Carlos Heinemann concluiu sua visita a Ibirubá reforçando a necessidade de um debate sério e bem estruturado sobre o futuro da propriedade da família Gabe. Ele destacou que, com planejamento e união, a cidade pode transformar essa história em um exemplo de preservação e valorização cultural.
“A história da família Gabe e dos pomeranos faz parte da identidade de Ibirubá. Se for bem administrada, essa área pode se tornar um grande atrativo para a cidade, gerando turismo, preservando a memória e protegendo um patrimônio ambiental único”, afirmou o historiador.

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