26 de abril, 2023 14h04m ibirubá por Cristiano Lopes

Como foi o julgamento de mais um feminicídio em Ibirubá

O corpo de Joice Pereira Flores passou mais de 40 horas em estado de decomposição dentro de uma pequena casa alugada, até que sua morte brutal foi descoberta por vizinhos e amigos na noite de segunda-feira, em 23 de novembro de 2020.

O corpo de Joice Pereira Flores passou mais de 40 horas em estado de decomposição dentro de uma pequena casa alugada, até que sua morte brutal foi descoberta por vizinhos e amigos na noite de segunda-feira, em 23 de novembro de 2020. A jovem mãe de quatro filhos foi vítima de feminicídio em um relacionamento marcado pelo medo e pela violência.

Ao chegarem ao local, as autoridades se depararam com uma cena devastadora: o corpo de Joice em avançado estado de putrefação, com uma perfuração de faca no pescoço. Seu então companheiro, Vinicius Schultz Rodrigues, autor confesso do crime, havia consumido uma grande quantidade de medicamentos e estava desorientado.

A comunidade de Ibirubá, que já havia sido abalada por outro caso de feminicídio pouco mais de um ano antes, ficou chocada com mais essa demonstração de violência doméstica. 

Este foi o crime que foi julgado nesta terça-feira (25) no Fórum de Ibirubá. A rua Flores da Cunha chegou a ser bloqueada a pedido da Comarca de Ibirubá por toda extensão na lateral da praça General Osório. A preocupação era que pela gravidade do fato e as circunstâncias houvesse uma grande concentração de pessoas em frente ao fórum, fato que não se confirmou.

O julgamento iniciou às 8h30min e durante o julgamento, na hora dos debates entre a acusação e a defesa, a promotora de Justiça Suzane Hellfeldt lembrou que a cada cinco horas, uma mulher é morta no Brasil vítima de feminicídio. 

  Ela também mostrou para os jurados, fotos tiradas no dia que o corpo de Joice foi encontrado. Enquanto apresentava os argumentos da acusação, a promotora mostrava detalhes da casa que corroboram com a tese apresentada e com os detalhes das testemunhas ouvidas no processo, mas o fato mais impactante foi quando as fotos de Joice na cena do crime apareceram na TV colocada no ambiente de julgamento. As fotos não mentiam, e elas mostraram a crueldade e as circunstâncias de um crime que chocou a comunidade. 

O julgamento ocorreu em um clima tenso na sala do tribunal, com a presença de um pequeno número de pessoas aguardando ansiosamente por uma decisão. O júri popular, formado por pessoas comuns selecionadas aleatoriamente, estava atento a cada palavra dita pelos advogados de defesa e acusação, e pelas testemunhas que foram ouvidas, enquanto o juiz supervisionava o processo com uma expressão séria e concentrada.

Publicidade

Enquanto a defesa argumentou a tese de legítima defesa, o réu afirmou que Joice teria tentado usar a faca contra ele, mas teria sido morta em sua própria defesa. 

Um dos momentos mais marcantes no julgamento da manhã foi quando o pai de Vinícius deu seu depoimento como testemunha de defesa. Durante toda a fala do pai, Vinícius estava de cabeça baixa e chorando muito. O pai fazia ali o que lhe cabia ao ver o filho no banco dos réus. 

Enquanto o julgamento se desenrolava no tribunal, a plateia assistia com olhos atentos e corações apertados. Entre os espectadores, um casal de idosos se destacava pela sua expressão de angústia e emoção. Nossa reportagem se aproximou e notou que a senhora idosa apertava a mão forte, enquanto ocasionalmente enxugava algumas lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Mesmo sem saber o desfecho do julgamento, era evidente que o casal estava profundamente afetado pelos acontecimentos. A cena era comovente e ilustrava a importância do caso não só para as partes envolvidas, mas também para aqueles que assistiam a tudo de perto.  À medida que o julgamento se aproximava do fim, a tensão aumentava. O veredicto estava nas mãos do júri, que precisava tomar a sua decisão. Depois de alguns minutos de deliberação, finalmente foi anunciado o veredicto.

A sentença foi proferida pelo juiz de direito da Comarca de Ibirubá, Dr. Ralph Moraes Langanke, que considerou o crime quadruplamente qualificado, especificado de forma hedionda e em razão de ser mulher. O autor foi condenado pelos artigos II, III, IV e VI do Código Penal, incluindo a agravante de feminicídio, que considera a morte de uma mulher como resultado de sua condição feminina.

Com essa decisão, a justiça foi feita para Joice e sua família, além de enviar uma mensagem forte sobre a necessidade de combater a violência contra as mulheres no Brasil. 

Mais um capítulo de feminicídio é finalizado em Ibirubá. Durante mais ou menos 6 horas de julgamento e enquanto o réu era levado para fora da sala do tribunal, para cumprir sua sentença, uma mulher já foi vítima de feminicídio mais uma vez no Brasil

Publicidade

Publicidade

Banca Virtual Edição Digital

Principais categorias