Na Semana da Consciência Negra, Maurício Lopes Lima, do Instituto Federal (IFRS) de Ibirubá, apresentou um panorama de sua pesquisa de doutorado que investiga as origens e a trajetória histórica de duas comunidades de Fortaleza odos Valos
Durante entrevista à Rádio Cidade, ele compartilhou descobertas sobre as comunidades quilombolas de Capão dos Lopes e Costaneira, ambas situadas no município de Fortaleza dos Valos, e como esse trabalho contribuiu para seu reencontro com a própria ancestralidade. Doutorando pelo PPGH/UPF da Universidade de Passo Fundo, mestre pelo mesmo programa, graduado e especialista em história pela Universidade Federal de Santa Maria, ele atua como Técnico em Assuntos Educacionais no IFRS, Maurício,conta que cresceu na comunidade conhecida como Costaneira, um local marcado pela herança cultural e pela história de resistência negra em Fortaleza dos Valos. “Cresci sem saber muito sobre a minha origem ou sobre as raízes da nossa comunidade. O apagamento histórico é muito presente. Foi na faculdade de História e durante meu doutorado que comecei a reconstruir essas narrativas”, destacou.
A pesquisa trouxe à tona registros importantes, como o de um ex-escravizado conhecido como Antônio, que recebeu liberdade e terras de seu antigo proprietário, João Lopes de Oliveira, na segunda metade do século XIX. Maurício traçou a genealogia até Antônio, confirmando ser um de seus ascendentes diretos. “Descobri que o nome da comunidade, Capão dos Lopes, e o sobrenome das famílias que vivem lá, vêm desse senhor que doou as terras. Isso trouxe um novo significado para a minha história e para a história de muitos que vivem ali.”
O professor ressaltou que a presença negra na região é muito mais antiga e significativa do que costuma ser reconhecida nos registros históricos oficiais. Segundo ele, o trabalho escravo foi central para a formação econômica e cultural do Planalto Médio, mas essa contribuição foi sistematicamente apagada.
A discussão também abordou o conceito contemporâneo de quilombo, que vai além dos espaços de fuga durante o período escravocrata. “Hoje, quilombo é entendido como um território de resistência e pertencimento, com raízes em comunidades negras que se mantiveram coesas ao longo dos séculos, mesmo após a abolição da escravidão”, explicou Maurício.
Ele ainda celebrou a importância do Dia da Consciência Negra, que se tornou feriado nacional este ano. “É um reconhecimento tardio, mas fundamental. Essa data não é apenas uma homenagem à luta dos negros, mas um momento para toda a sociedade refletir sobre sua formação histórica e as desigualdades que ainda persistem.”
Maurício planeja publicar sua pesquisa em livro, tornando acessível a história das comunidades quilombolas de Fortaleza dos Valos. Ele também trabalha junto ao Incra para garantir que os territórios quilombolas sejam reconhecidos e titulados oficialmente.
“Essa é uma história que precisa ser contada, não só para valorizar as comunidades quilombolas, mas para que todos nós possamos entender a complexidade de quem somos enquanto sociedade”, finalizou.