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A cidade de Ibirubá vivenciou um dos cenários mais preocupantes da história recente no combate à dengue. Em 2023, o município figurou entre os cinco com maior incidência de casos no Rio Grande do Sul, totalizando 880 confirmações e cinco óbitos. Em 2024, o número de casos caiu para 87, e nenhuma morte foi registrada. No entanto, especialistas alertam para a possibilidade de novos surtos em 2025, especialmente devido à circulação do tipo 3 do vírus da dengue no estado.
Para discutir a situação e as medidas preventivaso Jornal O Alto Jacuí entrevistou as agentes de endemias Joice Marques e Greice Petry Saggin dos Santos, da Vigilância em Saúde de Ibirubá. Durante a conversa, Joice ressaltou a importância do planejamento e das ações estratégicas. "Temos ações de rotina que são realizadas semanalmente e mensalmente, mas também definimos medidas extras. Começamos o planejamento com reuniões técnicas, e uma das primeiras iniciativas foi vir à mídia para conscientizar a população", explicou.
A estratégia do município inclui monitoramento constante. Atualmente, há 60 armadilhas espalhadas pela cidade para avaliar a presença do mosquito Aedes aegypti. Segundo Greice, houve um aumento de armadilhas positivas nos últimos meses. "Isso reforça a importância da eliminação de criadouros. Cada cidadão deve dedicar pelo menos 10 minutos por semana para verificar o quintal e os arredores", alertou.
A responsabilidade individual foi outro ponto abordado. "Se a população não colaborar, não há estrutura de saúde que suporte", disse Joice. Durante o surto de 2023, a equipe de saúde enfrentou dificuldades para conter a doença. "Enquanto tentávamos controlar um bairro, o surto se deslocava para outro", relatou.
Outro desafio é o combate à desinformação. As agentes destacaram que muitos munícipes desconhecem a gravidade da dengue e a importância da vacinação. Embora Ibirubá ainda não seja elegível para a vacina contra a dengue, Joice alertou que a baixa adesão à vacina da gripe resultou em vários casos graves da doença em 2024. "A vacina evita hospitalizações e óbitos, mas a desinformação tem afastado as pessoas", lamentou.
Ações como palestras educativas em escolas e mutirões de limpeza foram planejadas para 2025. "Vamos intensificar a parceria com escolas para levar conhecimento aos alunos. A conscientização das crianças e adolescentes pode impactar diretamente a prevenção nas residências", destacou Joice. Além disso, a Vigilância em Saúde pretende retomar os mutirões nos bairros com maior incidência de focos do mosquito. "Começaremos pelo bairro Jardim e pretendemos ampliar para outras regiões", informou Joice.
Outro fator de risco identificado pelas agentes foi o acúmulo de lixo. A prefeitura tem enfrentado problemas com a coleta, agravando o cenário. "Depende muito do que é descartado. Se houver tampas, recipientes abertos ou entulho que acumule água, isso pode se tornar um foco", explicou Greice.
A dengue não é mais sazonal. O mosquito tem se adaptado a diferentes condições climáticas, e casos foram registrados até mesmo no inverno. "Hidratação é fundamental para quem apresentar sintomas", reforçou Joice. "A dengue pode deixar sequelas prolongadas, como fadiga e dores musculares intensas."
As agentes também enfatizaram a necessidade de acompanhamento médico em casos suspeitos. "Nem todo diagnóstico depende de teste laboratorial. Muitas vezes, os sintomas são suficientes para confirmar a dengue, principalmente em regiões onde há surtos", explicou Joice. "Por isso, o monitoramento da saúde deve ser contínuo."
A preocupação com a circulação do tipo 3 do vírus da dengue no estado foi destacada na entrevista. "O vírus da dengue tem quatro sorotipos, e quando alguém já foi infectado por um tipo e contrai outro, a chance de desenvolver sintomas graves aumenta", alertou Greice. "O estado já emitiu uma nota técnica alertando sobre o risco, e estamos atentos a isso."
As agentes encerraram a entrevista reforçando o apelo à população. "Se cada um fizer sua parte, evitaremos um novo surto em 2025", concluiu Greice. Com medidas eficazes e conscientização coletiva, Ibirubá espera evitar repetir o cenário de 2023 e manter a cidade protegida da doença.