04 de junho, 2022 14h06m Colunistas

Coluna Gustavo Ribas - Incerteza sem fim

Na noite anterior à invasão do Dia D, na 2ª Guerra Mundial, um nervoso Franklin Roosevelt perguntou à esposa Eleanor como ela se sentia por não saber o que aconteceria a seguir.

“Ter quase sessenta anos e ainda se rebelar contra a incerteza é ridículo, não é?” ela disse.

Cada vez concordo mais com ela. E, num mundo globalizado como o atual, onde cada vez mais temos menos certeza das coisas, fica ainda mais insano não abraçar a incerteza como parte do planejamento.

Enquanto você lê esse texto – a inflação é a mais alta em 27 anos, taxas de juros crescentes, muitas ações de tecnologia caindo mais de 50%, uma guerra na Ucrânia, cadeias de suprimentos quebradas, uma pandemia persistente, China em lockdown, e assim por diante – parece que a incerteza econômica está aumentando, talvez a maior incerteza em anos.

Essa é a palavra mais comum para definir o atual momento, pelo menos. Muitas coisas não estão apenas ruins, mas piores do que o esperado, que é quando os problemas se transformam em pânico.

Mas a ideia de que a incerteza é maior agora do que era, digamos, há um, dois ou cinco anos é estranha. Isso implica que o futuro era mais previsível no passado, antes que a pandemia ocorresse, a inflação disparasse e a guerra eclodisse. Mas não era, claro. Os riscos sempre existiram. As pessoas estavam simplesmente cegas para eles.

O futuro é sempre infinitamente imprevisível. O que muda não é o nível de incerteza, mas o nível de complacência das pessoas.

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Existe uma teoria na psicologia chamada realismo depressivo que diz que as pessoas deprimidas têm uma visão mais precisa do mundo porque são mais realistas sobre o quão arriscada e frágil é a vida.

À medida que as pessoas olham para a economia, provavelmente é isso que está acontecendo agora. A incerteza não aumentou este ano; a complacência caiu. As pessoas estão mais conscientes de que o futuro pode seguir qualquer caminho, que o que é próspero hoje pode evaporar amanhã, e que as previsões que pareciam seguras há alguns meses podem parecer malucas hoje.

Sempre foi assim. Mas agora estamos bem cientes disso.

Viver os últimos dois anos e ainda se rebelar contra a incerteza é ridículo, não é?

Bons investimentos e conte comigo!

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