No interior de Ibirubá, a rotina começa cedo na propriedade de Lourenço Bonzanini. Aos 102 anos recém-completados no dia 28 de agosto, ele ainda levanta disposto para cuidar das vacas, das galinhas e dos porcos. Mantém hábitos que o acompanharam por décadas, como o chimarrão, a leitura diária de jornais e as orações feitas várias vezes ao dia. Com fala calma, ele resume o segredo de tanta vitalidade: “Eu como igual os outros, trabalhei muito e sigo ativo.”
Nascido em Estrela, quando a localidade ainda era distrito de Roca Sales, Lourenço chegou ao Umbú em uma longa viagem ao lado dos irmãos. Já são 93 anos vividos na mesma propriedade, onde construiu família e criou os quatro filhos. Hoje, divide a vida com a filha Carmen, que o acompanha no dia a dia. Ele se emociona ao recordar o passado: “Quando eu tinha 80 anos, o doutor disse que estava na hora de usar bengala. Aí cortei um galho de laranjeira e fiz a minha própria. Tá comigo até hoje.”
Leitor desde os oito anos de idade, Lourenço não abre mão do jornal impresso. É assinante do Correio do Povo há mais de 75 anos e acompanha também o Jornal O Alto Jacuí.
“Ler faz bem para a cabeça. Todo dia eu leio o jornal que chega aqui em casa.”
Esse contato diário com as notícias, junto ao chimarrão servido na mesma cuia de décadas, mantém viva sua conexão com o mundo.
A fé também ocupa espaço essencial em sua vida. Na propriedade, construiu uma pequena casinha para abrigar uma imagem de devoção. Ali, reza todos os dias, sempre agradecendo. “Eu rezo depois do almoço, à noite, sempre agradecendo a Deus.” Para ele, a espiritualidade é parte inseparável do caminho da longevidade.
No aniversário de 102 anos, Lourenço surpreendeu os convidados ao dispensar presentes. Em vez disso, pediu alimentos para doar ao Lar do Idoso e à Liga Feminina de Combate ao Câncer. “Não quis presente, preferi ajudar. Assim é melhor.” O gesto simples mostrou o quanto a generosidade é parte da sua essência.
Entre hábitos curiosos, destaca-se o uso do Biotônico Fontoura, consumido por ele há mais de 20 anos. “Agora eu tomo um vidro a cada semana ou duas. Faz bem.” E também os cuidados com a pele, que arrancaram risadas em uma visita de parentes vindos do Mato Grosso: “Me perguntaram o que eu usava para não ter rugas. Eu disse: leite de aveia extra seco.”
Ainda com energia, Lourenço gosta de visitar o comércio da cidade, comprar suas frutas prediletas — maçã e mamão — e comentar sobre o desenvolvimento da região. “Ibirubá tá crescendo, mas tem automóvel demais. É muito carro para pouca rua.” Também se encanta com o dourado das lavouras: “A canola é bonita, parece até que a terra veste camisa amarela. É minha cor preferida.”
Cercado pelos filhos, netos e bisnetos, Lourenço mantém a hospitalidade de sempre. Recebe os visitantes com doces preparados pela filha, oferece chimarrão e não deixa ninguém sair de mãos vazias. Entre lembranças e ensinamentos, sua vida se transformou em exemplo para a comunidade: a prova de que a longevidade pode estar nos gestos simples, na fé cultivada e na gratidão pelo que se tem.
“Trabalhar, rezar e viver com calma. Esse é o segredo”, resume o agricultor centenário,
cuja história inspira todos que cruzam o caminho em Santo Antônio do Umbú, distante 12 km do centro.
