O papel do jornalismo local é fundamental. Somos os olhos e ouvidos da comunidade, responsáveis por fornecer informações precisas e atualizadas, além de dar voz às pessoas afetadas. Durante os desastres, nosso trabalho se torna ainda mais crucial, pois ajudamos a coordenar esforços de socorro, fornecemos orientações de segurança e inspiramos solidariedade e apoio mútuo.
Gemerson Santos, morador da região afetada pelas enchentes, compartilhou um relato contundente sobre os efeitos devastadores das recentes catástrofes naturais. Antes habituada a conversas triviais sobre o bem-estar, a comunidade agora se encontra imersa em uma realidade marcada pelo caos e pela destruição. Gemerson descreve a situação como "atípica" até mesmo para aqueles mais idosos, testemunhas de décadas de vida na região. Em suas palavras, ele compara os cenários desoladores das cidades atingidas a verdadeiras zonas de guerra, onde bairros inteiros foram varridos do mapa. Nesse contexto desafiador, o papel do jornalismo se torna ainda mais crucial, conforme Gemerson reflete sobre o equilíbrio delicado entre informar a comunidade e ser parte integrante dos eventos que a afetam.
“Antes das enchentes, a gente se encontrava aqui, meu amigo, e a pergunta era sempre a mesma: "Como você está?" E a resposta padrão era: "Tudo bem, tudo bem." Mas agora, depois de tudo o que aconteceu, a conversa mudou. Estamos nos microfones de vocês aqui no Alto Jacuí, uma região abençoada, se comparada ao que foi o estrago no Vale do Taquari. Em comparação com regiões acidentadas, como cidades crescendo às margens dos rios e colônias instaladas ao longo dos morros, podemos dizer que aqui o estrago foi minimizado. Mas se conversarmos com pessoas de 80 anos, elas vão te contar que nunca viram algo assim ao longo de suas vidas. Foi uma situação atípica até mesmo para eles. Sim, enchentes são comuns em cidades como Muçum, Lajeado, Encantado, Bom Retiro do Sul e Cruzeiro do Sul, mas dessa vez foi diferente. Bairros inteiros foram arrasados, não sobrou pedra sobre pedra. Alguns comparam o cenário com uma guerra, como se uma bomba atômica tivesse sido lançada em cada município, varrendo bairros inteiros do mapa. Quanto ao jornalismo, é verdade que ele nos coloca em uma sinuca às vezes. Temos o papel de levar a notícia, mas também somos vítimas, inseridos naquela realidade. O dia a dia de fechamento do jornal tem sido desafiador. Precisamos cumprir nosso papel, mas também estamos envolvidos nos eventos, mobilizando a comunidade. É um equilíbrio delicado, mas estamos aqui para fazer o nosso trabalho".
Gemerson fala da importância do rádio, do alcance que ele tinha:
“"O poder do rádio durante esses momentos difíceis é inegável. Ele se torna o elo vital entre as comunidades isoladas e o mundo exterior, fornecendo informações essenciais e um senso de conexão. Mesmo com toda a tecnologia disponível, o rádio de pilha se mostrou como um verdadeiro salva-vidas, transmitindo notícias, orientações e até mesmo conforto para aqueles que estavam enfrentando a adversidade”
E finaliza a entrevista com uma mensagem e esperança:
“Neste momento, minha esperança é que, com a ajuda do rádio e de outros meios de comunicação, possamos superar essa crise e retornar à normalidade o mais rápido possível. Que as águas baixem, as estradas sejam reconstruídas e as comunidades se recuperem. Que possamos todos voltar a nossas rotinas, renovados em nossa determinação e solidariedade."